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25/01/2023

Na Folha: as contribuições de Silvestre 2º para a matemática

Crédito: Freepik

Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo

Por volta de 972, Gerbert d’Aurillac já é considerado o maior intelectual da Europa. Tutor do futuro imperador romano Oto 2°, ele torna-se também diretor da escola catedral de Reims, uma das instituições de ensino mais avançadas do continente, que, sob a sua liderança, vai alcançar o ápice da glória como centro de conhecimento.

Entre as grandes contribuições de Gerbert está a introdução na Europa da numeração decimal, o sistema de numeração hindu-árabe que utilizamos até hoje. Na época, cálculos eram feitos por meio da numeração romana, que é muito pouco prática para isso. Gerbert ensinou como fazer as quatro operações da aritmética de forma muito mais rápida por meio de ábacos.

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Infelizmente, seus ensinamentos sofreram oposição da poderosa classe clerical, que monopolizava o conhecimento dos números e desconfiava de ensinamentos vindos do mundo islâmico. Por isso, o ábaco e a notação decimal só se tornariam populares na Europa bem mais tarde, a partir da publicação do “Liber Abaci”, do italiano Leonardo Fibonacci, em 1202.

A astronomia era outro domínio em que Gerbert se destacava fortemente. Especialmente devemos a ele a introdução no Ocidente do astrolábio, um instrumento de observação e cálculo extremamente preciso que teria um papel fundamental na Era dos Descobrimentos.

Gerbert também deixou importante obra escrita na música. Um de seus trabalhos explica como calcular o comprimento dos tubos de um órgão de modo a cobrir uma banda de duas oitavas, o que envolve problemas matemáticos interessantes.

Em geometria, suas notas de aula para os alunos de Reims foram o trabalho mais avançado sobre o tema na Europa durante dois séculos, só vindo a ser suplantado pela tradução para o latim dos “Elementos de Euclides” (a partir do árabe, já que o original grego se perdeu).

A par de seu trabalho como estudioso e acadêmico, Gerbert foi também um ator relevante nas grandes questões políticas do seu tempo. Foi fundamental para a ascensão de Hugo Capeto ao trono da França em 987. Quatro anos depois foi recompensado com a nomeação como arcebispo de Reims, mas a sua oposição a Roma fez com que fosse excomungado e deposto.

Contou com a proteção e a amizade do novo imperador romano, Oto 3º, de quem também fora tutor. Oto nomeou-o arcebispo de Ravena, em 998, e no ano seguinte fez com que ele fosse eleito papa.

Simbolicamente, escolheu ser chamado Silvestre 2º, em homenagem ao papa Silvestre 1º, que fora colaborador próximo de outro imperador romano, Constantino, o Grande.

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