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29/04/2020

Na Folha, Viana conta três histórias sobre sombras

Reprodução da coluna de Marcelo Viana, na Folha de S.Paulo

Estamos no ano de 1024, na cidade de Gázni, a bela capital da dinastia que governa o Afeganistão. O sultão Mamude (971 – 1030), conquistador do Irã e do Punjab, recebe uma delegação de turcos do Volga. Os visitantes contam que nas longínquas regiões polares ao norte, em certas épocas do ano, as sombras são bem maiores do que as pessoas e o sol não se põe durante dias.

Profundamente devoto, o sultão fica chocado e acusa-os de heresia. Num país em que não há noite, como poderia o fiel muçulmano obedecer ao mandato do Corão de orar 5 vezes por dia? Perante a ira do monarca, os embaixadores turcos temem por suas vidas.

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Intervém o sábio da corte, Abu Raiane Albiruni (973 – 1048). Lembrando que a Terra é curva, faz Mamude entender a razão de ser dos longos dias do verão polar. As vidas dos visitantes são salvas. Albiruni se sente feliz e orgulhoso. Conseguiu mais uma vez dissipar as trevas da ignorância. Mas ele sabe que essa guerra não tem fim.

Nascido na região próxima ao mar Aral, Albiruni viajou durante quase toda a vida, à mercê das vicissitudes de guerras e conquistas. Matemático, físico, astrônomo e filósofo, escreveu mais de uma centena de obras científicas. Entre elas, um Tratado das Sombras onde critica “os fanáticos religiosos que sentem náusea quando alguém fala sobre sombras, funções trigonométricas ou altitudes, e para quem a simples menção de um cálculo ou um instrumento científico dá arrepios”.

Eclipses da Lua são causados pela sombra projetada pela Terra sobre o seu satélite. Albiruni observou o eclipse lunar de 24 de maio de 997 na sua cidade natal de Kath e anotou o horário. Previamente havia combinado com um colega em Bagdá para que fizesse o mesmo.

A partir da diferença entre as horas do evento nos dois locais, determinaram a diferença de longitude entre as duas cidades. O método seria aperfeiçoado mais de meio milênio depois, por ninguém menos do que Galileu Galilei. Mas a solução prática para o problema da longitude acabou sendo outra.

O militar norte-americano Robert Peary (1856 – 1920) foi um explorador audaz. Fez várias expedições para alcançar o Polo Norte e, finalmente, afirmou ter conseguido a 6 de abril de 1909. Inclusive tirou uma foto com seus companheiros, em frente a uma bandeira cravada no local, para comprovar a façanha. Ao voltar à civilização, ficou sabendo que o seu compatriota Frederick Cook afirmava ter chegado ao polo quase um ano antes.

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