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27/04/2020

Equações dispersivas aproximam matemático colombiano do mar


Sem poder observar o relaxante movimento das ondas
in loco, o colombiano Oscar Riano esteve mais próximo do mar do que a maioria de nós durante a quarentena. O contato não se deu por teletransporte ou meditação, mas por uma ferramenta que também tem lá sua magia: a matemática. Nos últimos meses, o doutor pelo IMPA realizou os ajustes finais de sua tese, que fala sobre equações dispersivas que descrevem fenômenos físicos, como as ondas do mar. Com a sede do instituto fechada, ele defendeu o trabalho em uma reunião virtual com a banca, na quarta-feira (22).

Orientada pelo pesquisador Felipe Linares, a pesquisa observou a evolução de alguns modelos quando considerados diferentes tipos de dados iniciais, explica Riano. “Quando você vai à praia, vê ondas gerando certos comportamentos e desaparecendo conforme se deslocam para a areia. Muitos destes efeitos são influenciados pela forma como a onda foi gerada, por sua condição inicial. Busquei estabelecer se, quando iniciadas com determinadas propriedades, as soluções preservam estas propriedades ou não com o passar do tempo.”

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A aproximação com o objeto de pesquisa aconteceu ainda no mestrado, na Universidade Nacional da Colômbia, em Bogotá. À época, o matemático  se debruçava sobre as equações parciais e se interessou por uma equação que envolvia dispersão e dissipação. “Realmente gostei do assunto, então segui com estes tópicos no doutorado. O que me motiva é obter propriedades de equações dispersivas não lineares para as quais não existem soluções explícitas.”

O estudo destas equações requer ferramentas de diferentes áreas como física, análise harmônica, técnicas de equações parciais não lineares e probabilidade, comenta Catañeda, que considera esta uma das principais dificuldades do campo de pesquisa. “Você deve estudar muitos tópicos e é difícil saber especificamente qual ferramenta permitirá obter os resultados desejados.”

Neste aspecto, a orientação de Linares, a quem o colombiano descreve como uma ótima pessoa e um excelente matemático,  foi fundamental. “Ele sempre tira um tempo de suas responsabilidades para ouvir dúvidas e compartilhar conversas sobre diferentes questões da vida. Está sempre acompanhando os alunos, mesmo os que já se formaram. Aprendi muitas coisas a partir do seu exemplo”, conta.

Natural de Bogotá, Riano caminha para a concretização de um sonho antigo: se tornar professor. O desejo de se dedicar à docência foi um dos critérios que usou para deixar a faculdade de engenharia eletrônica ainda nos primeiros semestres do curso e ingressar em matemática na Universidade Nacional da Colômbia, onde se formou. “A graduação me deixou bases sólidas para estudos subsequentes. O mestrado foi mais investigativo. Comecei a ler artigos e a apresentar em seminários. Isto me ajudou muito no doutorado, pelo menos a ser mais organizado, procurar referências e descobrir em qual área eu queria trabalhar.”

Atualmente na Colômbia, ele aguarda a resposta de alguns empregos aos quais se candidatou. A volta para o país de origem já era prevista, mas foi antecipada por causa do agravamento da pandemia da Covid-19 no mundo. “Tinha planejado voltar à Colômbia em maio e passar um tempo em casa. No entanto, a pandemia me forçou a viajar repentinamente em março e não consegui organizar muitas coisas no Rio.”

Com uma despedida às pressas, Riano avalia como positiva a experiência no IMPA e na cidade. “É um lugar que reúne pessoas muito talentosas, onde se  aprende muito com professores e alunos. A qualidade dos pesquisadores, dos convidados internacionais e dos cursos ministrados fazem do IMPA um lugar muito prestigiado em matemática. Foi uma ótima oportunidade ter sido aluno”, diz o matemático, que já mira se inscrever no pós-doutorado quando a situação se normalizar.

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