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19/03/2020

Mitigar ou suprimir a disseminação do coronavírus?

Reprodução
do blog do IMPA Ciência & Matemática, de O Globo, coordenado por Claudio Landim

Claudio Landim, diretor-adjunto do IMPA

Terá o governo federal, finalmente, se convencido da importância da pesquisa teórica e da necessidade de consultar a comunidade científica para elaborar políticas públicas? A atual epidemia ilustra bem esse papel.

O governo inglês propôs, inicialmente, combater a propagação do coronavírus através da imunidade de grupo, baseado no fato de que um vírus não consegue proliferar se 60% ou mais da população estiver imune. [1] Um modelo matemático de propagação de epidemias [2], elaborado por um grupo do Imperial College de Londres, convenceu-o a mudar de estratégia.

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O artigo compara os efeitos de duas formas de contenção da epidemia, a mitigação e a supressão.

O parâmetro fundamental no estudo da disseminação de uma epidemia é sua taxa de reprodução média. Ele representa o número médio de indivíduos contaminados por cada pessoa infectada. Se há três indivíduos infectados e o primeiro transmite o vírus, durante seu período contagioso, a duas outras pessoas, o segundo a três, e o terceiro a nenhuma, a taxa de reprodução média é igual a (2+3+0)/3= 1,66.

Naturalmente, essa taxa varia ao longo do tempo e depende de vários fatores, como do meio ambiente, da demografia, da composição genética da população, etc. Medidas como o isolamento social, o confinamento ou a imunização da população podem diminuí-la. Essa taxa permite estimar o número futuro de pessoas infectadas. Enquanto for superior a 1, o número de contaminados aumentará de modo exponencial. Ao contrário, se for inferior a 1, a epidemia desaparecerá rapidamente.

Uma política de supressão consiste em adotar medidas para reduzir a taxa de reprodução média a um valor inferior a 1, enquanto que uma política de mitigação consiste em reduzi-la a valores próximos, entretanto maiores, do que 1.

A China e a Coréia do Sul adotaram políticas de supressão, enquanto que o governo inglês propunha, antes do aritgo [2], políticas de mitigação.

O estudo foi elaborado levando em consideração as condições demográficas, sociais e econômicas dos EUA e da Inglaterra. Ele se baseia em estimações da taxa de transmissão, que podem vir a mudar.

Se nada fosse feito, o pico da epidemia ocorreria três meses após seu início. Ao final, 80% da população teria sido contaminada. Haveria 510.000 mortes na Inglaterra e 2,2 milhões nos Estados Unidos.

Uma política de mitigação, combinando isolamento domiciliar de casos suspeitos, quarentena domiciliar daqueles que co-habitam com casos suspeitos, distanciamento social dos idosos e outros grupos de risco, deveria reduzir o pico da demanda por cuidados médicos em 2/3 e óbitos pela metade. A epidemia mitigada decorrente resultaria em centenas de milhares de mortes e na sobrecarga repetida do sistema de saúde, em particular das unidades de tratamento intensivo.

Uma política de supressão exigiria além das medidas descritas acima, o fechamento de escolas e universidades, até o surgimento de uma vacina. Portanto, por um período mínimo de 18 meses. Medidas de isolamento social intermitentes poderiam ser tomadas nesse período, relaxando-se as diretrizes de confinamento, reabrindo-se escolas e universidades em certos intervalos.

Para ler o texto na íntegra acesse o site do jornal

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