Especialistas destacam impactos da matemática no mercado
Profissões matematizadas são responsáveis pela geração de aproximadamente 15% do PIB de países como França, Holanda e Espanha. No Brasil, tais atividades poderiam render à economia R$ 1 trilhão por ano, mas ainda há muito o que se fazer na educação básica para o número ser alcançado. O alerta foi dado pelo diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, durante a participação em vídeo no webinar “O mercado de trabalho e o papel da matemática pós-pandemia”. O encontro faz parte da série “E a matemática com isso?”, uma iniciativa do Instituto Sidarta, em parceria com o Itaú Social e apoio do IMPA.
“A matemática tem papel crucial na formação dos jovens e de crianças, na construção da cidadania e tem importância muito concreta na economia. Isso sinaliza para todos nós, participantes no processo educacional, que precisamos prover nossos jovens, nossos alunos com as ferramentas para ‘minerarem’ essa riqueza”, destacou.
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Para tentar desenhar como será o mercado após a pandemia, participaram da transmissão o cientista da inovação Charles Bezerra, Antonio Carlos Pipponzi, presidente do Conselho de Administração da Raia Drogasil, que atuou no Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV) até 2018, e Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta. O bate-papo teve a mediação do jornalista Marcelo Soares, diretor da Lagom Data.
Com base na perspectiva do Banco Mundial apresentada em 2019, Ya Jen destacou que as profissões tendem a exigir cada vez mais um know-how tecnológico, solução de problemas e pensamento crítico, além de habilidades interpessoais. “A questão não é mais se as profissões serão substituídas por robôs, mas quais trabalhos serão redefinidos e como”, apontou.
De acordo com PISA (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes), trabalho relacionados à área de tecnologia necessitam do nível 4 de domínio matemático. Situação que deixa a desejar no Brasil, onde 70% dos estudantes de 15 anos não passam do nível 2, considerado o patamar mínimo necessário para exercer plena cidadania, lembrou a presidente do Instituto Sidarta. “Mas a matemática faz parte do nosso DNA, como já apresentaram várias pesquisas acadêmicas. Todo ser humano é capaz de aprender. A questão é o que podemos fazer na educação para apresentar este potencial.”
No Programa Mentalidades Matemáticas, a disciplina é tratada a partir de um lugar mais aberto, criativo e visual, pontuou. “Durante o Curso de Férias do Instituto Sidarta, os alunos evoluíram 1,3 ano em aprendizagem matemática. E passaram a acreditar que erros fazem parte do processo.”
A boa compreensão da disciplina para quem está inserido no mercado foi destacada por Antonio Carlos Popponzi. “A partir do início da minha experiência no varejo, entendi o quanto a matemática é importante para lidar com estoque e liquidez. Hoje, todos dentro da empresa onde atuo são preparados para cuidar de pessoas. Nesta formação do profissional, podemos observar a falta que a matemática faz. Não só na hora de administrar doses de aplicar uma injeção, mas muito na capacidade de organizar raciocínio, de enviar textos, dividir o tempo de trabalho e se comunicar.”
Em aplicações mais complexas, profissionais que lidam com a teoria do caos e inteligência artificial, observam a matemática como uma “linguagem útil de padrões de abstração”, afirmou Charles Bezerra. “Não olho para desafios sob a lógica do ‘problem solving’, mas pela lógica de padrões. A vida de animais, plantas, bactérias e seres humanos são estruturas complexas. E aquilo que é complexo não tem problema, tem padrão. Casamento e educação infantil, por exemplo, têm padrões e o que nos cabe é avaliar como podemos influenciar sua evolução.”
Para isso, é preciso abstrair e transformar os dados em conhecimento para encontrar vantagens e soluções. “A matemática é extremamente útil para isso em várias dimensões. Ela está para a ciência assim como a meditação está para o místico”, finalizou Charles. O webinar está disponível na íntegra no Facebook do Mentalidades Matemáticas.
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