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01/11/2017

Estudantes criam petição online contra ameaça a OBMEP

Preocupados com a possibilidade de o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA)  não ter dinheiro para realizar em 2018 a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), os estudantes Tales Almeida, 17 anos, de Conceição dos Ouros (MG), e Davi Xie, de Curitiba (PR), criaram uma petição online no site Avaaz (clique aqui). O objetivo é pressionar o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, a liberar o orçamento necessário à organização da tradicional disputa matemática.

A previsão de corte de 50% na verba do IMPA para 2018, conforme planeja o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), coloca em risco a OBMEP. A notícia causou impacto entre alunos que já participaram da competição.

A reação foi imediata. Nesta segunda-feira (30), Tales Almeida e Davi Xie decidiram agir, a fim de reforçar a importância da OBMEP e seu impacto positivo na sociedade. Além da petição online, eles criaram a fanpage “OBMEP transformando vidas”, com relatos de pais e alunos beneficiados pelas olimpíadas de matemática.

Para Marcelo Viana, diretor-geral do IMPA, “esta iniciativa espontânea das nossas crianças e jovens, a quem se destina a Olimpíada, é mais uma demonstração da relevância da OBMEP para o futuro do Brasil”.

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Exemplo olímpico

Ganhador de uma medalha de prata e três ouros na OBMEP, Tales viu na Matemática a chance de ajudar os estudantes do município mineiro de Conceição dos Ouros. Com o apoio de professores, colegas medalhistas e da prefeitura, criou em 2013 uma olimpíada municipal, que tem gerado bons resultados: estudantes oriundos dela já conquistaram bons resultados em OBMEPs.

“Fiquei perplexo quando soube que a OBMEP poderia acabar. Foi um projeto que transformou a minha vida por completo”, diz Tales.

Ele lembra que, graças à olimpíada, pôde ir ao Rio de Janeiro para as cerimônias de premiação e participar de eventos como o Hotel de Hilbert e do Programa de Iniciação Científica Jr (PIC). Além disso, hoje estuda com bolsa integral em um colégio particular de Fortaleza (CE) devido ao desempenho na competição.

Como divide moradia com Davi Xie, também multimedalhista da OBMEP (quatro ouros), resolveram criar a petição e a página no Facebook, por entender que as melhores pessoas para pressionar o governo a manter a competição são os próprios estudantes.

A iniciativa já ganhou colaboradores, como Diene Xie (irmã de Davi), Katarine Emanuela Klitzke, de Timbó (SC), e Luiza Clara de Albuquerque Pacheco, de Fortaleza (CE). Tales revela que o objetivo, tanto da petição quanto da fanpage, é “mostrar às autoridades que a OBMEP é um projeto importante, que atinge milhares de estudantes e que muitos poderiam ter vidas diferentes se não fosse por ela. Queremos com isso que a olimpíada não acabe e continue impactando mais pessoas”.

Em breve, o grupo pretende lançar um canal no YouTube para postar todos os vídeos-relatos. Eles também preparam um documento com a transcrição de todas as histórias, para ser enviado ao IMPA e ao MCTIC.

 

Adesão

Pais e jovens já enviaram suas histórias para a página no Facebook. Em um deles, Carol Campos, mãe de Arthur, 12 anos, fez um relato emocionado.

“Arthur, meu filho de 12 anos, se apaixonou pelo mundo das olimpíadas científicas. Este ano, medalhou em duas delas e ainda aguardamos o resultado de outras três provas. Mas não estou aqui para me vangloriar disso, não. Estou aqui para dizer que foi graças às Olimpíadas que meu filho teve vontade de estudar.
Foi graças às Olimpíadas que ele fez novos amigos, e também foi graças a essas provas que ele viu algum sentido no Ensino Fundamental brasileiro. Embora ele ainda sofra com a síndrome do retorno – sim, ela existe e é real -, foi graças às Olimpíadas que ele está conseguindo se inserir e encontrar alegria nos estudos. Foi graças a essas provas que ele encontrou mentores pelo caminho e que recebeu apoio de seus grandes ídolos.

As Olimpíadas mudam vidas. (…). Mas agora, a principal Olimpíada de Matemática do Brasil, a OBMEP, está ameaçada de acabar por falta de verba. Honestamente, eu não sei o que fazer. Eu não sei como dar essa notícia para o meu filho, que anda fazendo muitos planos pra OBMEP do ano que vem”.

OBMEP atinge 99,7% dos municípios brasileiros

O Projeto Mapa Educação, fundado por dois medalhistas da OBMEP — Tábata Amaral e Renan Carneiro — também se posicionou a favor da campanha “Todos pela OBMEP”, compartilhando a história de integrantes do grupo que participaram da competição e o link para a assinatura da petição.

“Criada em 2005, a OBMEP já transformou vidas. Muitas vidas. Nós, do Mapa Educação, fomos diretamente afetados por ela. Muitos de nós só chegamos aonde chegamos por causa dessa prova. A Tábata e o Renan, nossos fundadores, foram medalhistas de ouro. Gustavo, nosso diretor de Gente, viajou para diversos países graças à OBMEP. Julia, nossa coordenadora de Logística, foi medalhista na OBMEP. Felipe, nosso Coordenador de Parcerias, idem. Daniel, nosso embaixador na Paraíba, também. É assim o nosso grupo. Cheio de estrelas. Mas essas estrelas só existem porque a OBMEP permitiu. O carinho que a nossa equipe tem por essa olimpíada é algo lindo de se ver. E não foi à toa que todo mundo se comoveu, e todo mundo se uniu, quando a Carol, nossa diretora de Conteúdo, contou que a OBMEP estava correndo perigo de não ser realizada em 2018.”

Como funciona

Criada em 2005, a OBMEP mobiliza atualmente mais de 18 milhões de estudantes de 53 mil escolas em 99,7% dos municípios do país.

O IMPA é responsável pela organização da olimpíada, que tem um custo de R$ 53 milhões. O valor é dividido entre o Ministério da Educação (MEC) e o MCTIC.

Se o MCTIC mantiver a previsão de orçamento para 2018 em R$ 39 milhões, equivalente a 50% do que previsto para 2017, a OBMEP corre o risco de não acontecer. O MEC até o momento garantiu a mesma verba para o próximo ano.

 

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