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09/02/2021

À Agência Sputnik, Imbuzeiro fala do uso da IA no Brasil

Imagem: Freepik

Com possibilidade de aplicação em diversas áreas do conhecimento, a inteligência artificial vem sendo tema de debate público no Brasil, que discute a criação do marco legal do desenvolvimento e uso da IA pelo poder público e pela iniciativa privada no país. Em entrevista à Agência Sputnik, o pesquisador do IMPA Roberto Imbuzeiro falou sobre o potencial do Brasil no uso desta tecnologia e as implicações éticas e legais que devem ser elaboradas para o amadurecimento da discussão em torno do tema.

“Inteligência artificial está baseada em métodos de computação e na disponibilidade de dados. Então, todos os setores em que há dados são setores em que você pode utilizar IA”, explicou. Segundo o matemático, áreas em que o Brasil lidera como agronegócio, produção de papel e saúde são setores naturais para introduzir a tecnologia.

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Para Imbuzeiro, o marco legal da IA, ainda sem data para ser votado, deve abordar questões éticas e sociais relacionadas ao uso de dados e às decisões tomadas pela IA. “Tem se falado em racismo de métodos de inteligência artificial. Teve uma história em que a busca de imagens do Google reconhecia fotos de pessoas negras como se fossem macacos. Isso não é exatamente um problema do método, isso é um problema dos dados. Provavelmente, os engenheiros do Google não treinaram o sistema de reconhecimento de fotos com dados suficientes de pessoas negras. E, assim como esse, há vários outros casos relacionados no mundo, envolvendo racismo, sexismo, envolvendo outras formas de injustiça, talvez.”

Leia a matéria na íntegra:

Brasil pode ‘saltar à frente’ em áreas de aplicação de IA, segundo especialista

Embora esteja atrás de outros países na corrida tecnológica, o Brasil tem condições para se destacar em algumas áreas de aplicação de inteligência artificial, acredita o pesquisador Roberto Imbuzeiro, do Instituto de Matemática Pura e Aplicada

Em 2019, o Brasil aderiu às recomendações do Conselho da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre inteligência artificial (IA). Em 4 de fevereiro de 2020, foi apresentado na Câmara dos Deputados o projeto de lei n. 21/2020, que cria o marco legal do desenvolvimento e uso da inteligência artificial pelo poder público e pela iniciativa privada no país. E, um ano depois, o projeto segue aguardando designação de relator na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI). 

Sistemas de inteligência artificial podem ser aplicados às mais diversas áreas do conhecimento, em qualquer setor que trabalhe com dados. É o que explica o matemático Roberto Imbuzeiro, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA).

“Inteligência artificial está baseada em métodos de computação e na disponibilidade de dados. Então, todos os setores em que há dados são setores em que você pode utilizar IA. Quanto mais dados, em princípio, melhor”, afirma em entrevista à Sputnik Brasil.

Segundo o especialista, esses sistemas tentam, basicamente, encontrar padrões nos dados e tomar ações em função disso. Um bom exemplo, ele cita, é o Facebook. Essa rede social pega todas as informações referentes a um determinado usuário, estabelece uma relação entre “seus dados e seus gostos”. A partir daí, o serviço fica apresentando anúncios e “coisas para atiçar sua curiosidade ou sua vontade de consumir” e “é assim que o Facebook ganha dinheiro”. 

“A gente vê que o Brasil tem, por exemplo, empresas líderes em agronegócio, produção de papel, na área de saúde, de exames de imagem. Enfim, a gente tem uma ampla gama de setores em que o Brasil está muito bem posicionado, inclusive no cenário internacional. E esses setores são, digamos assim, setores naturais para você introduzir, cada vez mais, a inteligência artificial.”

Apesar dos inúmeros benefícios atribuídos a essa tecnologia, o que tem se discutido muito nos últimos tempos, de acordo com o matemático, são questões éticas e sociais em geral relacionadas ao uso de dados e às decisões tomadas pela IA. 

“Tem se falado em racismo de métodos de inteligência artificial. Teve uma história que a busca de imagens do Google reconhecia fotos de pessoas negras como se fossem macacos. Isso não é exatamente um problema do método, isso é um problema dos dados. Provavelmente, os engenheiros do Google não treinaram o sistema de reconhecimento de fotos com dados suficientes de pessoas negras. E, assim como esse, há vários outros casos relacionados no mundo, envolvendo racismo, sexismo, envolvendo outras formas de injustiça, talvez. E isso, de fato, tem que ser abordado pela legislação. Mas eu acho que, talvez, o tema ainda não esteja maduro. Em nenhum lugar do mundo, há um consenso exatamente do que fazer, de quem são as responsabilidades e do que acontece.” 

São esses tipos de problemas que devem ser abordados no marco legal da IA, que ainda não tem previsão de ser votado. 

“É um debate que está acontecendo agora, é uma coisa que a gente precisa entender melhor e, talvez, não seja o momento ainda de a gente codificar essas coisas em lei, o que é sempre um passo sério. Claro, tem a vantagem de proteger as pessoas. Mas também engessa as coisas bastante.”

Apesar do grande potencial brasileiro, hoje, segundo Imbuzeiro, o Brasil está muito atrás de outros países nessa corrida tecnológica, que tem como grandes centros os Estados Unidos, a China e o Canadá. 

“Mas a gente consegue fazer, dentro da nossa escala e usando os nossos dados, coisas que podem ser muito úteis. Não só internamente, para o nosso mercado, para o nosso povo, mas também externamente. Podem se tornar tecnologias pioneiras. Então, assim, a gente está atrás, mas eu vejo muita oportunidade de a gente saltar à frente pelo menos em algumas áreas de aplicação da IA.”

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