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23/07/2019

Apreciador das artes, Eder Correa conclui pós-doutorado

A Matemática surgiu por acaso para Eder de Moraes Correa, que, aos 33 anos, conclui no fim deste mês o pós-doutorado no IMPA. De família modesta, nascido em Biritiba Mirim, interior de São Paulo, ele chegou a trabalhar em serraria antes de ingressar na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde formou-se matemático em 2010.

Antes da Matemática, Eder pensou em ser desenhista ou músico. Como gostava de artes, imaginava que poderia seguir carreira na área.

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“Tive [na educação básica] bastante estímulo por parte dos professores de educação artística para desenvolver minha sensibilidade para música e artes gráficas. Não tenho dúvidas da importância desse conhecimento na formação da minha subjetividade e no desenvolvimento do interesse por Matemática Pura, em especial geometria”, recorda.

Na infância, passava boa parte do tempo desenhando. Na adolescência, passou a se interessar por música. “Gostava muito de violão erudito. Meu sonho era poder estudar e me tornar um violonista. Mesmo sabendo que seguir carreira como músico era praticamente impossível devido às minhas condições sociais, levei esse sonho por um bom tempo. Foi isso que me motivou a tentar uma vaga na universidade pública”, diz.

Toda a educação básica foi cursada em escolas públicas da cidade natal. Ao fim do ensino médio, foi trabalhar na serraria com o pai, Antonio Paulo Nunes Correa. “Esse período foi um dos mais difíceis, mas me fez ter certeza do que eu não queria para a minha vida. Como meus pais não concluíram o ensino fundamental/médio, não tive nenhum estímulo dentro de casa para continuar os estudos, o único incentivo que tinha era para arrumar um emprego.”

Para ter condições de disputar vaga em universidade pública, começou a estudar em casa, com apostilas, por conta própria. “Infelizmente não tinha um computador para auxiliar nos estudos.”

No fim de 2005, passou para a Unicamp e a Universidade de São Paulo (USP). Optou pela Unicamp, pois “os serviços de apoio social ofereciam um suporte maior, e isso garantiria a permanência efetiva na universidade”.

Eder conta ter optado inicialmente pelo curso de Tecnologia da Construção Civil por ser um dos poucos acessíveis a suas condições de preparação para o vestibular. Na faculdade, conheceu as disciplinas básicas de Matemática do ensino superior.

“Como minha formação escolar era um pouco defasada, o esforço para poder ser aprovado nessas disciplinas foi intenso. Isso me fez desenvolver um interesse muito grande por Matemática. No fim do primeiro ano, fiz um remanejamento interno para o Bacharelado em Matemática, ingressando em 2007”.

O processo da criação está por trás da escolha da Matemática. “Acredito que minha proximidade com a música e artes gráficas tenha contribuído muito na escolha. Tive que deixar de lado meu ideal de estudar música na universidade, e a Matemática era a única coisa que me fazia sentir como me sentia quando desenhava ou estudava violão. Nos primeiros anos de Matemática entrei em contato com diferentes áreas de conhecimento e pesquisa. Meu interesse por geometria começou quando cursava uma disciplina de Física que tratava do estudo da Lei de Gauss. Fiquei maravilhado com o conceito matemático de parametrização de curvas e superfícies.”

Ao se aprofundar nos estudos matemáticos, na metade do curso, Eder já definira Geometria Diferencial como a área a que se dedicaria.

“Concluí o Bacharelado em Matemática em 2010, tendo cumprido boa parte dos créditos de disciplinas do mestrado ainda na graduação. Ingressei no mestrado pelo Programa de Pós-graduação em Matemática da Unicamp em 2010. Iniciei meus estudos em Teoria de Lie e Geometria Diferencial em espaços homogêneos. Concluí o mestrado em 2013, tendo cumprido boa parte dos créditos de disciplinas do doutorado ainda no mestrado.”

Naquele mesmo ano Eder iniciou o doutorado também na Unicamp, com projeto sobre sistemas hamiltonianos (integráveis) em órbitas coadjuntas de Grupos de Lie compactos e quantização geométrica. O doutorado foi concluído em 2017.

“Durante o desenvolvimento do projeto, tive a oportunidade de fazer um intercâmbio (doutorado-sanduíche) de sete meses na Universidade Estadual de Dakota do Norte pelo programa Ciências sem Fronteiras. A experiência foi fundamental para o aprimoramento da minha pesquisa e desenvolvimento pessoal, uma vez que pude interagir com pesquisadores de outros países e aprofundar meus conhecimentos em outra língua.”

O doutorado propiciou a Eder o primeiro contato com o IMPA, por meio do pesquisador titular Henrique Bursztyn. O interesse em comum em Geometria Simplética levou Eder e Bursztyn a submeter um projeto de pós-doutorado ao CNPq, aprovado pouco antes da defesa de doutorado. Em 1º de agosto de 2017, sob a orientação de Bursztyn, Eder iniciou o pós-doutorado no IMPA.

“A Matemática é uma linguagem, uma maneira de se trabalhar com ideias abstratas. Ela torna o mundo um lugar melhor porque através dela ‘modelamos’ fenômenos ligados a praticamente todas as ciências naturais e aplicadas. Isso nos ajuda a compreender o mundo a nossa volta e criar novas tecnologias.”

Sobre a vivência no IMPA, o pesquisador destaca “a excelente estrutura e a rotina de atividades, como seminários e cursos”. “No IMPA pude entrar em contato com temas de pesquisa que até então não sabia que poderia.”

Findo o pós-doutorado, Eder já pensa em um segundo, até tomar posse como professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde foi aprovado em concurso.

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