Após sete ouros na OBMEP, estudante ingressa na UFSC
Karine Rodrigues
A Matemática entrou na vida de Luiz Felipe Pfleger pelas mãos da mãe, Marlene, agricultora de ascendência alemã que parou os estudos no Ensino Fundamental.
“Ela escreveu as tabuadas de 1 a 10 em pedaços de papel”, recorda o estudante, sobre a primeira lembrança que possui relacionada à Matemática. Ele tinha cinco anos e estava em vias de ingressar na Escola Municipal de Santa Isabel, em Águas Mornas (SC), cidade de pouco mais de cinco mil habitantes.
Marlene, 39 anos, lembra com detalhes como apresentou o assunto ao filho, antes mesmo dele entrar na pré-escola: “Copiei as tabuadas em umas folhinhas de papel, com canetas coloridas. Ele amou. Os olhinhos já brilhavam para os números.”
Leia também: O 1º voo da computação quântica
De repente, matemático: o trajeto de Bursztyn pelo mundo
Visgraf integra projeto de pesquisa científica dos BRICS
O encantamento natural das crianças pela Matemática cresceu junto com Luiz Felipe. Quando os conceitos começaram a se tornar mais complexos, no segundo ciclo do Ensino Fundamental, ele conheceu a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Cursava o 6º ano na Escola de Educação Básica Conselheiro Manoel Philippi.
Estreou na competição aos 11 anos e conquistou uma medalha de ouro. Repetiu o feito em todas as outras seis participações na OBMEP. Diz que sempre gostou de Matemática, mas foi com a OBMEP que ela se tornou a disciplina favorita e se transformou em um futuro na área de Exatas.
Quando ganhou o primeiro ouro, foi uma novidade na região, onde, até então, ninguém conquistara qualquer prêmio na OBMEP.
Sete OBMEPs, sete ouros. O último deles recebido na cerimônia nacional de premiação realizada em julho, em Salvador, na Bahia.
“Minha lembrança mais memorável foi o dia em que uma moça ligou para mim, dizendo que tinha sido premiado com medalha de ouro. Todas as vezes que saía o resultado era emocionante. Mas, com certeza, esta foi mais, por ter sido a primeira medalha”, diz, sobre o prêmio conquistado em 2012.
Com os as medalhas, Luiz Felipe garantiu participação no Programa de Iniciação Científica da OBMEP, o PIC Jr., “uma experiência incrível”. Uma vez por mês, rumava para a UFSC para estudar Matemática e resolver problemas desafiadores.
“Com o PIC Jr., aprendi assuntos que não eram vistos na escola. Certamente, com a Matemática descobri que posso ser autodidata, e isto foi muito importante para mim, principalmente quando fiz o vestibular, porque também estudava sozinho para as outras disciplinas”.
Em 2019, começou a vida de estudante de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. Ele conta que o apoio dos pais e dos professores foi essencial para acreditar que podia chegar longe.
O professor João Ives Schmitt Huller nunca duvidou disso. Quando Luiz Felipe ingressou na Conselheiro Manoel Philippi, em 2012, para cursar o 6º ano do Ensino Fundamental, ele logo percebeu quão especial era o novo aluno.
“Dedicado, concentrado, atencioso e muito perspicaz nas interpretações dos problemas matemáticos. Como professor apaixonado pela matemática, vi nele um enorme potencial. Ele é um orgulho para mim e para toda Águas Mornas. Vários alunos se inspiraram e se inspiram nele”, conta João Ives, que considera a OBMEP “uma ferramenta muito útil para encorajar os alunos e desmistificar a história de que matemática é uma matéria chata.”
A entrada de Luiz Felipe na universidade encheu de orgulho Marlene e o marido, José, 45 anos, pedreiro que, assim como ela, não conclui o Ensino Fundamental, e o irmão André, 15 anos, também premiado na OBMEP.
“Não tivemos a oportunidade de chegar à universidade. Ver o filho crescer na trajetória acadêmica e entrar numa excelente universidade é muito gratificante para nós, para os professores e amigos dele também”, observa Marlene. “Sempre procuramos dar o apoio necessário para ele poder estudar. Também agradeço a Deus por ter colocado ótimos professores na vida dele.”
Para ficar mais próxima da UFSC, a família deixou Águas Mornas, e foi morar em Palhoça.
“Foi o melhor que pudemos fazer no momento. Ele está muito feliz. Meu marido é pedreiro, a construção civil está passando por crises no momento. Mas sempre lutamos juntos para o sustento e o bem estar da família”, conta Marlene.
Sobre a nova rotina, Luiz Felipe considera que ela exige uma dedicação maior, mas está onde queria. “Com a matemática eu aprendi que posso sempre buscar o meu melhor. Muitos problemas surgirão, mas tem que persistir para conseguir resolvê-los. Ainda, aprender não deve ser algo que deve ser na força bruta; o importante é gostar do que esta fazendo e sempre buscar se aprimorar.”
Leia também: Brasil é ouro na Olimpíada de Países de Língua Portuguesa
IMPA abre vaga para analista administrativo