'A Matemática é como um jogo', diz Sergio Chion Aguirre
Cecília Manzoni
De sorriso largo e bem-humorado, Sergio Chion Aguirre é um peruano que já absorveu a leveza do carioca. Há sete anos no Brasil, o matemático natural de Lima faz caminhadas na praia de Copacabana, frequenta um bar de jogos de tabuleiro na Cinelândia, torce para o Flamengo e planeja se matricular em uma academia de crossfit.
Mas de segunda a sexta-feira, no horário comercial, Sergio se dedica a pesquisar o objeto geométrico das subvariedades, subárea da geometria diferencial. Com supervisão do pesquisador Marcos Dajczer, ele caminha para o fim de seu pós-doutorado no IMPA.
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As origens e os avanços da Matemática indiana
Filho de uma contadora e de um engenheiro de produção, Sergio foi criado no distrito de Miraflores e considera que o gosto pela Matemática surgiu na infância, por influência dos pais.
“Quando pequeno, meu pai me apresentava a livros didáticos da Matemática com exercícios de álgebra, o que acabou me incentivando a estudar e ganhar mais facilidade com a matéria”, conta.
Mais tarde, Sergio optou por cursar Matemática na Pontificia Universidad Católica del Perú (PUCP). A turma tinha apenas ele e mais quatro alunos, o que lhes conferiu maior proximidade com os professores, que elaboraram um curso bem abrangente.
Com o diploma em mãos, o matemático passou três anos trabalhando na área, dando aulas de cálculo atuarial no curso do pai. De malas prontas para o Brasil, recebeu proposta de emprego após um extenuante processo seletivo de um banco peruano.
Disse não sem arrependimentos, e iniciou mestrado em Matemática na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), em 2011. Era a primeira vez que vinha ao Brasil, e não demorou para consolidar uma relação afetuosa com o país. “O Brasil é um país muito acolhedor, que recebe bem os estrangeiros. A cultura também não é tão diferente da do Peru, o que facilitou meu processo de adaptação.”
A maior dificuldade foi com o idioma, o que lhe rendeu algumas gafes nos primeiros meses. “Uma vez fui bater à porta de um professor e perguntei: ‘professor, puedo molestarlo?’. Só entendi o erro semanas depois, quando vi um cartaz sobre assédio numa sede de polícia”, conta.
Sob orientação de Guillermo Antonio Lobos, foi no mestrado que Sergio se aproximou da geometria diferencial. Sua dissertação, defendida em 2014, versou sobre a holonomia normal e a holonomia normal restrita.
Por ter se afeiçoado por São Carlos e pela universidade, o matemático seguiu na UFSCAR no doutorado. “Gostei muito do estilo de vida de lá, por ser uma cidade universitária. De vez em quando passo oito horas dentro de um ônibus só para visitar a cidade, meus colegas, e matar as saudades”, revela.
A primeira vez no IMPA foi por um motivo inusitado. Para viabilizar a presença do pesquisador Marcos Dajczer na banca, a defesa da tese de doutorado, orientada pelo professor Ruy Tojeiro (UFSCar), aconteceu no instituto. Sergio aproveitou a situação para expressar seu interesse em integrar o programa de pós-doutorado na casa e, em poucas semanas, já estava trabalhando no IMPA.
“Todos sabemos o peso que o nome do IMPA tem para a Matemática. Quando recebi o convite, não tive muito no que pensar. Só aceitei”, revela.
Para o futuro próximo, o matemático está de viagem marcada. Ele vai desenvolver pesquisas durante três meses na Universidade de Murcia, na Espanha.
“A matemática é como um jogo no qual você dispõe de regras que tem de respeitar para concluir. O bacana é que, abstraindo informações, é possível chegar a conclusões fortes através destas regras básicas”, reflete Sergio.
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