Visgraf recria múmia de 2 mil anos em realidade virtual
Quando um incêndio atingiu o Museu Nacional em setembro de 2018, destruindo quase todo o acervo, visitantes regulares lamentaram a possibilidade de nunca mais ver a múmia de mais de 2.000 anos da jovem do período Romano Kherima. Com a ajuda do IMPA, a tecnologia veio reverter ao menos parte dos danos da tragédia. O projeto V-Horus (Virtual Egyptology), que conta com uma equipe de 12 pesquisadores do Museu Nacional, do IMPA, da Fiocruz e da PUC-Rio, recriou a peça em realidade virtual.
Até sexta-feira (4), o projeto estará exposto ao público na 7ª Semana de Egiptologia do Museu Nacional (SEMNA), no Auditório do Horto, na Quinta da Boa Vista.
Leia também: Como a trigonometria está por trás da navegação por GPS
Brasil fica em 1º lugar na Ibero-americana Interuniversitária
No IMPA, Roberto Velho pesquisa mean-field games
O V-Horus é coordenado na PUC-Rio pelo designer Jorge Lopes, pesquisador da Divisão de Desenho Industrial do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), e contou com a colaboração do laboratório Visgraf, do IMPA, dos laboratórios NEXT e EAI, do Departamento de Artes & Design da PUC-Rio, e da Fiocruz.
A reconstrução digital da múmia foi realizada a partir de imagens de tomografia da peça. Com estes dados, foi possível gerar um modelo geométrico com as medidas exatas da múmia e uma única textura envolvendo todo o corpo. A partir desse modelo, foi feito um processo detalhado de restauração, edição e pintura digital pelo uso de softwares especializados e fotografias de detalhes do corpo. Posteriormente, a imagem foi colocada no ambiente virtual por meio da plataforma Unity.
O Visgraf, que desenvolve pesquisas e projetos em realidade virtual desde 1997, foi responsável pela transformação em realidade virtual da imagem gerada pelos dados tridimensionais. “Foi um processo complicado, porque tivemos de resgatar muitos detalhes da superfície que haviam sido perdidos na geração dos dados volumétricos”, afirmou Luiz Velho, pesquisador líder do Visgraf.
Junto com Antônio Brancaglion Jr. (Museu Nacional) e Sheila Mendonça (Fiocruz), o pesquisador do IMPA selecionou uma série de fotos de múmias de épocas distintas para analisá-las antes de iniciar o processo de restauração na modelagem matemática da figura em realidade virtual. A equipe de pesquisa e desenvolvimento também é integrada por Andrea Lennhoff, Bernardo Alevato, Gerson Ribeiro, Andrea Malanski, Luiza Novaes (PUC-Rio), Sergio Azevedo, Pedro Luiz Von Seehausen (Museu Nacional), e Djlama Lucio (IMPA).
Com o trabalho finalizado, restou a pergunta: como atrair as pessoas para a o projeto? A decisão do grupo, contou Luiz, foi motivar o público pela narrativa imersiva. Através de novas pesquisas, a equipe elaborou um texto sobre os detalhes que tornam a Múmia Kherima especial.
Como todos os embalsamados, a jovem de Tebas teve o cérebro e as vísceras retiradas depois de morta. Na etapa do enfaixamento, fizeram algo pouco tradicional. Seu corpo foi estofado com enchimentos de pano e os membros enfaixados separadamente. Desta forma, o corpo ficou como o de uma boneca, com as formas femininas acentuadas e uma aparência mais próxima à de uma pessoa viva.
Para o coordenador do Visgraf, o projeto é interessante porque cria maneiras de experimentar processos em novas mídias. “A equipe esteve bastante integrada e comprometida com o objetivo de entregar uma nova experiência, que mistura arte e tecnologia.”
Para Luiz Velho, o V-Horus carrega uma “questão filosófica”. “O objetivo dos egípcios antigos, ao mumificar seus entes mortos, era preservar a identidade daquelas pessoas. Em alguma medida, nós também trabalhamos com este objetivo ao recriar em realidade virtual uma peça que, graças ao infortúnio ocorrido no Museu Nacional, não estaria mais ao alcance do público.”
Leia também: IMPA recebe palestra sobre depressão no Setembro Amarelo
Folha mostra temores de bolsistas com cortes do CNPq