Luiz Paulo Moreira defende tese em grafos aleatórios
Prestes a completar uma década no IMPA, o doutorando Luiz Paulo Moreira ensaia o seu adeus ao instituto pelo qual também é mestre. Nesta sexta-feira (22), às 14h, ele defende a tese “Um passeio pelos grafos aleatórios” por videoconferência, concluindo o curso. No trabalho orientado pelos pesquisadores Robert Morris e Roberto Imbuzeiro, Luiz Paulo abordou as propriedades extremais de grafos aleatórios.
O ramo da matemática que estuda é a combinatória, especificamente os objetos chamados grafos, que são uma abstração muito simples de uma relação simétrica, define o doutorando. “Uma relação simétrica entre um par, de pessoas por exemplo, é toda relação em que a ordem não importa.” Como exemplo, ele cita um gesto do cotidiano: o aperto de mão. “Se eu apertei sua mão, você também apertou a minha.”
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Com uma estrutura simples formada por pontos e retas que os ligam, os grafos são objetos de estudo de um número cada vez maior de matemáticos. Luiz Paulo pontua que algumas perguntas aparentemente simples sobre eles podem ser difíceis de ser respondidas. Um bom exemplo é o Teorema de Mantel, que pode ser enunciado a partir da relação simétrica do namoro. “Se eu namoro uma pessoa esta, pessoa também me namora. Em um grupo de n pessoas quantos namoros tem que acontecer para com toda certeza haver um triângulos amoroso, três pessoas que duas a duas namoram?”
Nascido e crescido em Fortaleza (CE), Luiz Paulo considera que teve uma infância comum, rodeada de amigos, primos e tios. Com uma “família gigante” – o pai tem oito irmãos e a mãe tem seis -, viveu em uma casa movimentada e alegre, com muitas brincadeiras. Considera como o maior feito acadêmico da sua vida ter escrito o próprio nome aos três anos de idade. “Minha mãe, que é professora, guarda o papel até hoje”, comenta.
Foi na casa da avó que mergulhou nos livros e nas músicas, desenvolvendo um gosto pessoal. “Descobri ‘a obsessão’ de gostar muito de pensar e ir a fundo em uma única coisa.” No Colégio da Polícia Militar de Ceará, no qual passou a maior parte da vida estudantil, participava de atividades extras como futebol, equitação, marcha sincronizada e coral.
Com tantos interesses, admite que a matemática não foi propriamente uma escolha. “Prefiro acreditar que foi o acaso.” A participação em olimpíadas científicas pode ter sido um pontapé para despertar seu gosto pela área. O bom desempenho nas competições renderam uma vaga em um colégio de elite da região. “Devorei todas as novas aulas de olimpíadas e me saí bem. O colégio era especialista no reforço positivo, então me apaixonei em um misto de ambição pelas premiações e por saber mais. Dentre todas as obsessões que tive, esta deve ter sido a que foi mais longe. Estudava umas 12 horas por dia de matemática e não via a hora passar.”
Foi parar na graduação em matemática da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde considera que foi “formado intelectualmente”. A formação sólida em matemática, que afirma ter sido um legado da participação em olimpíadas, facilitou o processo de adaptação, conta. Embarcou para o seu primeiro Programa de Verão no IMPA já no segundo ano da graduação. “Foi uma experiência memorável em muitos sentidos.”
Encantado pelo que viveu durante o verão, decidiu fazer mestrado no IMPA. Durante o curso, teve a chance de conhecer o pesquisador Roberto Imbuzeiro, quem considera um “guru”. “Dentre tantas conversas, matemáticas e não matemáticas, foi com quem eu tive o primeiro contato com probabilidade e matemática discreta”, pontua. Também se aproximou de Roberto Morris e da combinatória húngara, sua favorita. “Os dois são uma boa parte do porquê, que dentro da matemática, eu faço combinatória.”
Desde então, dedicado a estudar a área, Luiz Paulo sente que os grafos o impelem a “colocar a mão na massa”. “Em constraste com as áreas mais clássicas, as demonstrações em combinatória são muito mais artesanais. Gosto da liberdade que vem com isso.”
Em paralelo a pesquisa matemática, o doutorando leva uma vida agitada, constantemente se lançando em novas atividades. Desde que está no Rio de Janeiro já fez curso de artes plásticas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, de animação no Anima Mundi, onde também monitorou oficinas, escalada, alemão e parkour. Mas o que mais lhe dá prazer no tempo livre são as conversas com os amigos, que não o deixam “se acomodar no ato de pensar”, e as aulas que ministra nos projetos sociais “Pré-vestibular do Cerro Corá” e “Prepara Nem”. “Estes já foram muitas vezes o ponto alto da minha semana. Subir o morro, conseguir ensinar coisas que eles tinham certeza que não iam aprender, fazer amigos e descer o morro.”
Na reta final para a conclusão do doutorado, o cearense está confiante. “Fui bastante estimulado a me tornar um pesquisador mais independente, e já vou sair do doutorado com vários colaboradores”, comenta. Mesmo não gostando de pensar no futuro, seguiu o conselho unânime dos colegas e professores e aplicou para programas de pós-doutorado, sendo aceito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). “O que eu sei por ora é que vou continuar perto do IMPA”, diz.
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