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11/02/2022

No Blog Ciência & Matemática, a representatividade na ciência

Foto: PxHere

Artigo publicado no blog Ciência e Matemática do jornal O Globo, coordenado pelo diretor-adjunto do IMPA, Claudio Landim:

Meninas na Ciência: A Escola, as Escolhas e Quem nos Guia

Daniela Pavani, Carolina Brito e Marcia Barbosa

Marcia estava no início do ensino médio em uma escola estadual gaúcha. Os recursos eram escassos, mas conseguiram a doação de alguns equipamentos de laboratório. Animado com a possibilidade de oferecer a seus estudantes esta experiência, mas sem recursos humanos para a montagem, o diretor da escola convidou Marcia para ajudar trabalhando no turno noturno, quando a escola funcionava, para realizar a tarefa. O desafio era muito interessante. Professores de química e física orientavam o trabalho entre as aulas, em uma atividade igualmente não remunerada.

Além de montar os equipamentos do kit, ela organizava as bancadas de química com diversos reagentes. Era importante para a secagem de alguns compostos ter um forno. A escola, no entanto, não tinha um. Como o pai de Marcia era eletricista, ela arrumou uma resistência e o professor de física a orientou a construir um forno com tijolos, material que encontrou na escola que estava em obras. Na montagem, Marcia fez um erro nas ligações provocando um curto. Depois do susto, ela arrumou o sistema a tempo de apresentá-lo ao professor sem nunca confessar o equívoco. Esta experiência desafiadora de fazer algo, errar e consertar, de desenvolver projetos com parcerias como as que ela mantinha com dos dois docentes ela queria ter no resto de sua vida. Esta experiência a levou a decidir se tornar uma cientista. A dedicação destes dois docentes nunca foi esquecida pela estudante.

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“Na sala de aula, É que se forma um cidadão, Na sala de aula, É que se muda uma nação”.  Profissão exaltada neste samba de 1991 de Lecy Brandão, ou nos versos que já foram tema de questão em concurso público, de Tanya Maya, “É, só se faz um país com professor, Um romance, um croqui, com professor, Um poema de amor, dim dim, Um país pra ensinar seus jovens, É, só se faz um país com professor”, ou mesmo nos programas infantis como os Bananas de Pijama “Foi você que me ensinou, A ler e escrever, Me ajudou a encontrar, O caminho pra vencer”.

No discurso das ruas e de governos esta é uma das profissões mais valorizadas e exaltadas, porém, na prática a realidade é outra. Nas últimas semanas vimos declarações de gestores (e mesmo da população) questionando o reajuste de 33,24% do Piso Nacional do Magistério da Educação Básica. Instituído em lei em 2008, o piso tem sido reafirmado pelo STF em todas as ações que questionam o mesmo. Pela lei, estados e municípios recebem repasses do FUNDEB para complementar o pagamento aos professores. Mesmo assim, pagamos metade da média do que pagam a estes profissionais os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, que inclui nossos vizinhos Chile e Colômbia, e mesmo o México. Segundo o Anuário Brasileiro de Educação de 2019, a proporção da média salarial de um profissional da educação básica em relação à média de outras categorias do mercado de trabalho é de 69,8%. Equiparar o salário à média dos valores pagos pelos países da OCDE é um dos objetivos que constam no Plano Nacional de Educação (PNE), desde 2014.

O Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado em 11 de fevereiro, foi instituído em 2015 pela Assembleia das Nações Unidas (ONU). A celebração desta data com inúmeras atividades no mundo todo, objetiva aumentar a conscientização sobre a questão da excelência das mulheres na ciência e lembrar a comunidade internacional de que a ciência e a igualdade de gênero devem avançar lado a lado. Muitas pesquisas apontam que professores e professoras têm papel fundamental no processo de reprodução e também de enfrentamento das desigualdades de gênero. Os fazeres docentes têm efeito multiplicador na formação de estudantes, tanto pelo exemplo e referência na escolha das futuras carreiras, como também pelo seu papel na promoção de uma educação de qualidade que permita o acesso ao mundo do trabalho e/ou ao ensino superior.

O PNE que foi citado acima inclui metas fundamentais para o avanço da educação no Brasil e também aponta a importância do enfrentamento de desigualdades e da valorização da diversidade. O documento final coloca em metas qualitativas e qualitativas aquilo que as leis e diretrizes nacionais de educação determinam no que diz respeito, entre outras coisas, a Educação em Direitos Humanos, Educação Escolar Indígena e Quilombola, Ambiental. O PNE propõe prazos para a implementação da Base Nacional Comum Curricular, ainda muito debatida e envolta em polêmicas. De toda forma, é ela que indica conteúdos, competências e habilidades que os estudantes devem adquirir ao longo da Educação Básica. Quem tem de entrelaçar diretrizes nacionais curriculares, contexto local, conteúdos e currículo, formar para a vida e o trabalho? Novamente, professores e professoras! Além de curso superior, esta profissão exige estudo permanente e constante atualização.

A universidade também participa desta luta em busca de uma educação mais inclusiva e construção de uma ciência mais diversa. Um exemplo disto é o programa de extensão Meninas na Ciência do Instituto de Física da UFRGS, que foi criado há quase 10 anos com o objetivo principal de atrair mais mulheres para carreiras de ciências exatas e tecnológicas e diminuir a evasão nesses cursos. Para trilhar estes objetivos, as coordenadoras Carolina Brito e Daniela Pavani junto com as alunas bolsistas e voluntárias realizam pesquisas para entender as razões pelas quais as ciências exatas são redutos masculinos, campanhas que denunciam o machismo e o racismo, rodas de conversa sobre profissões nas quais alunos ainda em fase de escolha da carreira têm a chance de conversar com professoras e alunas de diversos cursos da universidade e profissionais da indústria para conhecer a realidade de algumas carreiras. O programa leva ciência e debate sobre questões de gênero e raça às escolas e abre as portas da universidade às alunas do ensino médio, numa ação que se chama “Gurias, Partiu UFRGS!”. Esta ação começou em 2014, quando pela primeira vez o Instituto de Física da UFRGS recebeu 100 alunas de uma escola de ensino médio para conhecer seus laboratórios e realizar experimentos.

Leia o artigo completo no blog Ciência e Matemática

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