Navegar

12/04/2023

Folha: a matemática nas ciências humanas

Divulgação

Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo

Se eu ganhasse um real a cada vez que alguém me diz “nunca me dei bem com a matemática, eu sou de humanas”, eu estaria muito bem de vida!

Na verdade, os avanços recentes das neurociências mostram que ninguém nasce “de exatas”, nem “de humanas”: o cérebro humano é supreendentemente plástico, e são as vivências dos anos iniciais, antes mesmo da escola, que influenciam a sua receptividade à matemática na idade adulta. Informação crucial para pais e responsáveis…

Leia mais: ‘Adorei participar e agora quero o ouro’, diz aluno de 11 anos
Matemático Rafael Iório morre aos 75 anos
Novos pesquisadores abordam linhas de pesquisa

Mas há outra coisa que me incomoda na dicotomia exatas/humanas: o fato de que ignora as inúmeras conexões entre essas duas facetas do conhecimento. Por isso, acho muito gratificante, entre outras coisas, constatar com que frequência a matemática é mencionada na literatura, mesmo que o leitor nem sempre se dê conta. Os exemplos abundam: já escrevi sobre alguns aqui, mas estou aprendendo sobre muitos outros.

O inglês Lewis Carrol (1832–1898) era professor de matemática. Assim, não surpreende que suas obras “Alice no País das Maravilhas” e “Alice do Outro Lado do Espelho” estejam cheias de paradoxos matemáticos desconcertantes. “Vejamos: 4 vezes 5 é 12 e 4 vezes 6 é 13 e 4 vezes 7 é… Nossa! Desse jeito nunca chegarei a 20!”, lamenta-se Alice. Mas não é um mero jogo de contradições: “Alice” também é uma sátira à matemática, que estava ficando mais abstrata, com conceitos como números imaginários e geometrias não euclidianas que o conservador Carrol repudiava.

Em “Cândido“, célebre obra satírica do pensador francês Voltaire (1964–1778), a menção à matemática é irônica, como seria de esperar. A Academia de Ciências de Bordéus oferece um prêmio para quem explicar por que a lã da ovelha de Cândido é vermelha. E o prêmio é dado “a um sábio do Norte que demonstrou por A mais B menos C dividido por Z que a ovelha tinha que ser vermelha e morrer de varíola”.

Mas no monumental “Os Irmãos Karamázov”, do russo Fiódor Doistóievski (1821–1881), a matemática toca os próprios fundamentos da existência. “Você precisa notar o seguinte: se Deus existe e se Ele realmente criou o mundo, então, como todos sabemos, Ele o criou de acordo com a geometria de Euclides, e a mente humana com a concepção de apenas três dimensões espaciais”, afirma Ivan Karamázov. 

Para ler o texto na íntegra acesse o site do jornal.

Leia também: ‘A matemática é um grande comboio’, diz João Pereira
18ª OBMEP bate recorde de escolas e municípios inscritos