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04/12/2020

Modelo matemático diz ser possível voltar ao passado

Foto: Agência Brasil

Imagine voltar a 2019, uma época anterior à pandemia do coronavírus, e poder evitar a propagação do vírus que mudou de forma avassaladora o ano que estamos vivendo. A missão quase impossível envolveria também encontrar o paciente zero, minutos antes dele ser infectado. Uma ida ao passado para evitar problemas futuros parece bastante convidativa, não? Mas um detalhe matemático, que vem sendo analisado por pesquisadores, ainda é um dos empecilhos para que isso se torne realidade. 

Algumas interpretações da física teórica apontam que ser um viajante no tempo é possível. Albert Einstein, por exemplo, sabia que suas equações permitiam, ao menos na teoria, viagens no tempo. Tal travessia teórica, no entanto, esbarra no que os cientistas chamam de “paradoxo”.

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Um “paradoxo”, como chamam os cientistas, é um ciclo infinito que cria uma inconsistência lógica e destrói a ilusão da viagem no tempo. Entre os modelos mais famosos está o “paradoxo do avô”. Sua versão original apresenta um cenário em que o neto viajaria no tempo para matar seu próprio avô, antes mesmo de ele ter seu pai. A grande questão é que, uma vez o avô estivesse morto, o viajante não poderia ter nascido. Sem o nascimento em questão, a viagem no tempo também não seria viável. 

Resolver este paradoxo envolve vários exercícios mentais. Recentemente, Germain Tobar, estudante de física da Universidade de Queensland, na Austrália, sob supervisão do professor Fabio Costa, filósofo e físico teórico, desenvolveu uma solução matemática para o caso. A proposta dos dois é um modelo matemático com o qual calcularam que um “agente” que entra em um ciclo de viagem ao passado poderia seguir caminhos diferentes, sem alterar o resultado de suas ações. 

O exercício abstrato mostra que vários agentes podem se falar no passado e no presente, sem trazer uma relação de causa e efeito. “Os eventos se ajustam, de modo que sempre haverá uma solução única e consistente”, aponta Tobar à BBC. Ao considerarmos o exemplo da pandemia, o que o estudo diz é que em uma viagem ao passado seria possível fazer qualquer coisa, mas seria impossível mudar o resultado dos eventos. Ou seja, você teria livre arbítrio, mas não seria capaz de evitar que a pandemia se alastrasse. Entre todas as possibilidades analisadas, até mesmo você, enquanto viajante no tempo, poderia ser o paciente zero. 

O modelo proposto por Tobar mostra que os eventos mais relevantes seriam calibrados constantemente para evitar qualquer paradoxo, atingindo sempre o mesmo resultado. Este estudo é aplicável apenas de forma abstrata no campo da matemática. “É um trabalho interessante”, aponta Chris Fewster, professor de matemática da Universidade de York, no Reino Unido, que estuda modelos de viagem no tempo, à reportagem. 

Fewster lembra que “resta saber se as condições abstratas que os autores impuseram são satisfeitas nas teorias da física atualmente conhecidas”. O desafio, agora, é colocar tal modelo matemático à prova e, quem sabe, viajar no tempo!

Fonte: BBC 

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