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19/03/2019

Karen Uhlenbeck é a primeira mulher a receber o Abel Prize

O Abel Prize, uma das mais cobiçadas honrarias da Matemática, foi concedido, pela primeira vez, a uma mulher. A condecorada é a norte-americana Karen Keskulla Uhlenbeck, 76 anos, professora emérita da Universidade do Texas em Austin e pesquisadora sênior visitante da Universidade Princeton e do Instituto para Estudos Avançados (IAS).

Uhlenbeck foi reconhecida “por suas conquistas pioneiras em equações diferenciais parciais, teoria de calibre e sistemas integrativos e pelo impacto fundamental de seu trabalho em análise, geometria e física matemática”, informa o texto da premiação.

Escolhida por um comitê que reúne cinco matemáticos renomados internacionalmente, Uhlenbeck deu contribuições fundamentais à compreensão de superfícies mínimas, como as complexas formas das bolhas de sabão.

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“Karen Uhlenbeck recebe o Abel Prize 2019 em reconhecimento ao trabalho fundamental em análise geométrica e teoria de calibre, que mudou dramaticamente o cenário da Matemática. As teorias que ela desenvolveu revolucionaram nosso entendimento das superfícies mínimas, como as formadas por bolhas de sabão, e outros problemas de minimização em dimensões mais altas”, declarou Hans Munthe-Kaas, chefe do comitê julgador.

Além disso, Uhlenbeck ajudou a alicerçar uma base matemática em técnicas usadas por físicos na teoria quântica de campos para descrever interações entre partículas e forças. O trabalho da norte-americana possibilitou a criação de um novo campo de pesquisa, a análise geométrica.

Criado em 2002, por ocasião do aniversário de nascimento do matemático norueguês Niels Henrik Abel (1802-1829), o Abel Prize é um reconhecimento da Academia Norueguesa de Ciências e Letras em nome do Ministério da Educação e Pesquisa da Noruega, aos matemáticos que deram contribuições de extraordinária profundidade e influência à área. O prêmio de 700 mil dólares será entregue pelo rei Harald V, em cerimônia em 21 de maio, em Oslo.

Defesa da igualdade de gênero na Matemática

Além de destacar o trabalho da pesquisadora, a Academia Norueguesa de Ciências ressaltou que ela é um modelo na defesa pela igualdade de gênero na Ciência e na Matemática. De fato, para conquistar o Abel Prize, Uhlenbeck precisou, fora a pesquisa de excelência desenvolvida ao longo dos últimos 40 anos, de muita persistência para enfrentar um ambiente predominantemente masculino. Cansou de ouvir que deveria ir para casa e abandonar a Matemática.

Em 1990, o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, acompanhou a palestra plenária de Uhlenbeck no Congresso Internacional de Matemáticos (ICM), em Kyoto (Japão). Na ocasião, ela repetia um feito de Emmy Noether, que, 60 anos antes, recebera pela primeira vez tamanha distinção. 

“Esta é uma notícia fantástica. Eu assisti à palestra plenária de Karen Uhlenbeck no ICM de 1990, a primeira dada por uma mulher desde 1932. Esta premiação faz justiça à trajetória científica espetacular dela e também serve para lembrar que a Matemática não pode prescindir da metade feminina da humanidade”, declarou Viana, que, há um ano, citou o Uhlenbeck em sua coluna na “Folha de S.Paulo”, dedicada naquele dez de março de 2018 à importância da presença feminina na Matemática.

Uhlenbeck é uma das fundadoras do The Women and Mathematics Program, criado na década de 1990 para recrutar e empoderar mulheres em pesquisa matemáticas em todas as fases da carreira. Ajudou, ainda, a fundar o Park City Mathematics Institute, na mesma instituição, que forma jovens pesquisadores e promove a compreensão mútua dos interesses e desafios da área.

Eleita para Academia Americana de Artes e Ciências (1985), membro da Academia Nacional de Ciências (1986), Medalha Nacional da Ciência (2000), Prêmio Steele (2007) e membro da Sociedade Americana de Matemática (2012), Uhlenbeck recebeu, em 1983, a MacArthur Fellowship.

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