Navegar

28/09/2022

Folha: Festival da Matemática começa nesta quinta (29)

Anos atrás, um de meus alunos de doutorado no IMPA me confessou que quando ia à praia levava um livro para estudar, mas sempre com capa: “Se virem que estou lendo matemática, ninguém fala comigo… e eu quero arrumar namorada!”.

A matemática realmente tem uma capacidade única para provocar todo tipo de reações e restrições quando surge numa conversa normal. É pena, porque conceitos matemáticos estão por toda parte, e rejeitá-los apenas nos priva de um meio importante para entender e desfrutar o mundo que nos rodeia.

Lewis Carroll, o autor de “Alice no País das Maravilhas” e “Alice Através do Espelho”, era professor de matemática e, na verdade, esses clássicos da literatura juvenil estão recheados de ideias matemáticas, que somam muito ao encantamento da história. Constatei, com satisfação, que meus filhos se apercebiam disso na leitura. Mas, para muitos a experiência de ler a “Alice” fica incompleta, superficial.

Leia mais: Prêmio IMPA de Jornalismo está com inscrições abertas
Instituto está com duas vagas abertas para pesquisadores
IMPA abre inscrições para Pós-Doutorado de Verão – 2023

Se deixar de apreciar integralmente um livro pode parecer um prejuízo menor, os males da rejeição à matemática são mais profundos, afetando tanto a formação do cidadão —pois não é possível viver plenamente o século 21 sem domínio razoável de capacidades matemáticas básicas— quanto o próprio desenvolvimento nacional.

Escrevi aqui na semana passada que em países avançados a atividade econômica baseada na matemática gera uma fração substancial (15% a 20%) do produto interno bruto, além de oferecer salários bem acima da média nacional. O exercício de tais atividades requer, obviamente, profissionais capacitados para quem a matemática é aliada, e não inimiga.

O desafio de desmistificar essa imagem da matemática é a razão de ser do segundo Festival Nacional da Matemática, que começa nesta quinta-feira (29) na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. Na esteira do sucesso da primeira edição, realizada em 2017 com 18 mil visitantes, o festival oferece uma programação rica de palestras, oficinas, jogos, exposições, cinema e teatro, voltada para mostrar a matemática como ela é: instigante, divertida, útil, encantadora.