Aos 70, IMPA fortalece diálogo de ciência com setor produtivo
Nos seus 70 anos de história, o IMPA se consolidou como uma das principais instituições científicas do Brasil, ajudando a tornar o país destaque na matemática mundial. Após sete décadas, o instituto continua apontando para o futuro. Para o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, fortalecer a aplicação da matemática nos setores produtivo e público, contribuindo para o desenvolvimento do país e a formação de profissionais, é uma meta.
Para isso, o IMPA iniciou a construção de novo campus, vizinho à sede do instituto, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. O projeto facilitará a vinda de bolsistas para a cidade e permitirá incubação de empresas.
Além disso, numa parceria com a Prefeitura do Rio, o instituto passará a ter pela primeira vez uma graduação em Matemática, voltada para tecnologia e inovação. O Impa Tech, cuja sede será no Porto Maravilha, será em um galpão que funcionará como hub para startups.
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Festival mostra que matemática pode ser divertida e inovadora
O IMPA conta ainda, desde 2021, com o Centro Pi (Centro de Projetos e Inovação IMPA), que atua em parcerias com a iniciativa privada em projetos para a resolução de problemas práticos de empresas, aplicando os conhecimentos de pesquisadores e alunos nas áreas de Data Science e Inteligência Artificial.
Cumprindo sua missão institucional, o IMPA segue promovendo iniciativas para popularizar o ensino da matemática e descobrir novos talentos para o país. Alguns dos principais exemplos disso são a OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), que reúne anualmente 20 milhões de alunos de 99,7% dos municípios brasileiros, e o Festival Nacional da Matemática, que acontecerá entre 29 de setembro e 1º de outubro, na Marina da Glória, no Rio.
Leia abaixo a entrevista com o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana
O que representa a construção do novo campus do IMPA?
Marcelo Viana: O campus é um grande projeto transversal, que tornará o IMPA mais eficaz e com mais recursos para fazer atividades que já desenvolvemos ou que ainda vamos descobrir. Um meio para várias ambições que temos e teremos. Para comparar, basta olhar para os efeitos da inauguração da primeira sede própria do IMPA, em 1981, onde estamos hoje. A sede anterior era um espaço apertado, o fato de termos vindo para cá mudou o IMPA completamente. Há 40 anos atrás, ninguém imaginaria onde estaríamos agora.
Quais serão os efeitos dessa expansão, o que ela vai trazer de novo?
Viana: Temos três direções e prioridades que o campus pode alavancar de maneira decisiva. Uma delas é fazer com que nossa interação com a sociedade, sobretudo com o setor produtivo, seja ainda mais efetiva. Estamos falando de um espaço de incubação de empresas, que tenham relação com aplicação da matemática, e cursos de formação para técnicos, por exemplo. Outra direção conceitual diz respeito aos nossos alunos, oferecendo moradia. Poderíamos dobrar o número de estudantes que o IMPA recebe – que hoje é de 150. O que a gente precisa é de uma boa oferta de alunos, o primeiro gargalo, e nos tornarmos atraentes para eles. Não basta o IMPA ser o IMPA do ponto de vista teórico, é preciso dar condições para que os alunos, muitas vezes pobres, tenham condições de estudar no instituto. O terceiro aspecto é que nós estamos cada vez mais fazendo atividades de popularização da matemática. Somos um país em que a sociedade tem pouco acesso à ciência, e a matemática tem uma reputação que não ajuda. Precisamos lutar para combater isso por meio de ações de popularização da ciência, que poderemos ampliar quando tivermos mais instalações.
A criação da graduação do IMPA, projeto em parceria com a Prefeitura do Rio, no Porto Maravilha, vai ajudar na formação de novos alunos, pesquisadores e profissionais?
Viana: Sem dúvida. Embora a graduação seja direcionada para tecnologia e inovação, ter entre 100 e 120 alunos entrando por ano em um curso oferecido pela IMPA vai proporcionar que alguns alunos queiram aprofundar seus estudos. Teremos uma fonte potencial de estudantes para pós-graduação, principalmente em matemática aplicada. Outra questão crucial é o diálogo com o setor produtivo, a partir do momento em que somos a instituição que estará no hub de inovação do Rio de Janeiro, em um ambiente frequentado por startups e os principais grupos empresariais do país. Isso vai gerar muitas oportunidades.
E a OBMEP vai desempenhar um papel nessa cadeia de conhecimento?
Viana: A OBMEP é um mecanismo de garimpar alunos talentosos que já está à nossa disposição, mas ainda é subutilizado. Sabemos quem são os alunos mais criativos e com raciocínio mais adequado para a matemática que o país produz. Às vezes, são alunos com carências, mas com grande capacidade de raciocínio. O setor produtivo busca isso quando contrata alguém.
E como está a evolução do Centro Pi? Ele foi desenvolvido pensando em fortalecer o diálogo com o setor produtivo?
Viana: Totalmente. É um projeto em construção, que está crescendo. É gratificante sentir a demanda da clientela que precisa de apoio matemático na área tecnológica, tanto comercial, de empresas e indústrias; como de órgãos públicos, com objetivos educacionais e sociais. Ao criarmos o centro, estabelecemos condições e estrutura para poder atender, de forma organizada, essa necessidade. E quando falo de estrutura, não são só as paredes e máquinas, mas também a equipe, formada por pesquisadores jovens e alunos.
E sobre o Festival Nacional da Matemática, a ideia é popularizar a ciência, mostrar que a matemática pode ser divertida?
Viana: O festival é o carro-chefe de nosso esforço de popularização da matemática. É um evento com mesas-redondas, atividades e exposições para transmitir a ideia de que diversão e matemática caminham juntas. A ciência pode ser apresentada para todo mundo, de forma lúdica e agradável. Fizemos o primeiro em 2017, como parte do Biênio da Matemática (2017/2018). Agora que a pandemia está mais estável, vamos fazer o segundo. O projeto é que o festival se torne bienal. O sucesso da primeira edição, que atraiu 18 mil pessoas, foi além das nossas expectativas.
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