'De que são feitas as estrelas e outras questões'
Reprodução do blog do IMPA Ciência & Matemática, publicado em O Globo, e coordenado por Claudio Landim
Sérgio Volchan, doutor em matemática, NYU
Em 1835 o filósofo francês Auguste Comte afirmou que jamais saberíamos a composição química das estrelas. Aparentemente desconhecia que uma década antes, na vizinha Alemanha, o astrônomo Joseph Fraunhofer tinha inaugurado o estudo da espectroscopia estelar ao examinar a luz solar através de um prisma sensível que ele mesmo construiu. Como cada elemento químico tem a sua própria “assinatura” de linhas espectrais, pode-se identificar sua presença por comparação no laboratório. Em 1859 Kirchoff já identificava a presença do elemento sódio no Sol e nas décadas seguintes vários outros elementos foram detectados. Hoje conhecemos não apenas a composição das estrelas, sua fonte de energia (fusão nuclear) e seu ciclo de vida, mas também que somos feitos de pó de estrelas. A espectroscopia tornou-se um ramo imenso e indispensável da Física e Química experimentais, cuja base teórica se assenta na Mecânica Quântica.
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O século XIX inaugurou uma tradição de debates apaixonados sobre os limites da Ciência, que continua até hoje. Um exemplo célebre foi a palestra ministrada em 1872 pelo fisiólogo-médico-psicólogo-filósofo alemão Emil du Bois-Reymond, intitulada “Sobre os Limites do Conhecimento da Natureza”. Nessa provocativa palestra, ele identificou os “Sete Enigmas do Universo”:
1. A natureza da matéria e das forças;
2. A origem do movimento;
3. A origem da vida;
4. O arranjo (aparentemente preordenado) do mundo natural;
5. A origem das sensações e da consciência;
6. O pensamento racional e a origem da faculdade associada, a fala;
7. A questão do livre arbítrio.
Para ele, 1, 2 e 5 eram questões “inteiramente transcendentais e insolúveis”, sobre as quais só nos resta dizer: Ignorabimus (em latim, ‘jamais saberemos’).
O que ele diria hoje? Sobre a 1 e 2 é certo que conhecemos muito mais profundamente a estrutura da matéria e as forças, a partir das descobertas da Física Quântica e da Relatividade. É bom lembrar que a própria existência dos átomos só foi reconhecida nos inícios do século XX! Houve também avanços extraordinários em Astronomia e Cosmologia, verdadeiramente impensáveis naquela época.
Sobre a 3, certamente ficaria exultante com os experimentos de Miller e Urey de 1953, corroborando a hipótese da “sopa primordial” de Oparin e Haldane sobre as bases bioquímicas da vida. No mesmo ano Watson e Crick desvendam a dupla-hélice do ADN. Isso sem contar todo o conhecimento adquirido sobre a estrutura celular, bioquímica, genética e evolução. Hoje a pesquisa sobre as origens da vida é hoje uma disciplina muito ativa, com diversas hipóteses e cenários disputando um lugar ao sol.
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