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30/07/2020

Coluna de política da Folha abre espaço para matemática

 

Crédito: Divulgação Instituto Serrapilheira

Pode até “parecer estranho”, mas para Luna Lomonaco a linguagem perfeita nada tem a ver com idiomas. É pura matemática. Nesta quarta-feira (29), a pesquisadora do IMPA substituiu o colunista de política da Folha de S.Paulo Bruno Boghossian, como parte da campanha #CientistaTrabalhando.

No artigo “Matemática é a linguagem perfeita”, a pesquisadora do IMPA lembra que a disciplina, muitas vezes incompreendida, nos permite expressar nitidamente nossas ideias e traz uma compreensão do mundo sem equívocos. 

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“Na matemática, criamos mundos paralelos e perfeitos, respondendo a um chamado interior: ir além do material e do imperfeito. Dante Alighieri fez Ulisses dizer: Considerai a vossa procedência: não fostes feitos para viver quais brutos, mas para buscar virtude e sapiência’ (‘A Divina Comédia’). Buscar conhecimento é próprio da natureza humana.”

A campanha #CientistaTrabalhando, promovida pelo Instituto Serrapilheira para debater o processo científico na imprensa, conta com a participação de vários cientistas e colunistas. Na última sexta-feira (24), Claudio Landim “ocupou” a coluna do jornalista de política internacional Guga Chacra, no Jornal O Globo. O Blog Ciência  & Matemática, coordenado pelo diretor-adjunto do IMPA, também contou com textos da física Marcia Barbosa, do biólogo Fábio Hepp e do psicólogo e doutor em Neurociências e Comportamento, Paulo Boggio

Marcelo Viana, diretor-geral do IMPA, participou da campanha dedicando duas colunas suas na Folha de S.Paulo: “O valor da ciência”, publicada em 8 de julho, e “Quem descobriu a América (de verdade)?”, em 29 de julho.

Confira o artigo de Luna Lomonaco publicado na Folha de S. Paulo na íntegra: 

Matemática é a linguagem perfeita 

Certa vez, fui à Suécia para um seminário. Lembro-me bem de três coisas: do frio inacreditável, da cerveja cara e de minha apresentação. Estava quase no fim dela quando um sueco me olhou e sorriu. Soube então que, para ele, eu já poderia parar de falar naquele momento, porque ele tinha entendido aonde eu queria chegar.

Na matemática, criamos mundos paralelos e perfeitos, respondendo a um chamado interior: ir além do material e do imperfeito. Dante Alighieri fez Ulisses dizer: Considerai a vossa procedência: não fostes feitos para viver quais brutos, mas para buscar virtude e sapiência” (“A Divina Comédia”). Buscar conhecimento é próprio da natureza humana.

Mas há algo ainda mais intrínseco: a comunicação. Tanto é que, nas prisões, a punição maior é o isolamento.

Pode parecer estranho, mas, para mim, a matemática é a linguagem perfeita: extremamente sofisticada, complicada e até aterradora, mas perfeita. Não há equívocos, e isso nos permite explicar nitidamente as nossas ideias.

Essa comunicação se opõe à linguagem comum, cheia de ambiguidades. Por vezes falo “amarelo”, mas meu marido, holandês, não entende, pois enxerga “verde”. Tudo piora quando passamos a ideias mais abstratas. Pirandello explica: “Temos todos um mundo interno: cada um o seu mundo de coisas! E como podemos nos entender se nas palavras que falo coloco o sentido e o valor das coisas como são dentro de mim, enquanto quem as escuta inevitavelmente as entende com o sentido e o valor inerentes a ele? Acreditamos nos entender; não nos entendemos nunca!”.

Na matemática, quando nos comunicamos, a ideia consegue passar de uma cabeça para outra. Isso aconteceu na Suécia, naquela apresentação onde não pude fazer nada além de sorrir de volta. Feliz, porque tinha conseguido a comunicação perfeita da ideia.

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