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17/11/2017

Coluna na Folha: A matemática molda trajetórias de vida

O cearense Ricardo Oliveira nasceu em 17 de fevereiro de 1989 em Várzea Alegre, a mais de 400 km de Fortaleza. Ainda bebê, foi diagnosticado com amiotrofia espinhal, doença neurológica que afeta a medula. Numa extraordinária trajetória de superação da enfermidade e das dificuldades inerentes a sua origem humilde, Ricardo tornou-se sete vezes medalhista da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), o que também lhe abriu o caminho para o ensino superior: ao final de 2016 formou-se no curso de Tecnologia em Mecatrônica Industrial, com excelentes notas.

Filho de agricultores da zona rural de Várzea Alegre, até o acesso à educação era um problema. Além de morar longe da escola, era quase impossível uma cadeira de rodas trafegar pelas esburacadas estradas de terra batida: muitas vezes o pai teve que levá-lo em um carrinho de mão. Por essa razão, seus pais, Francisca e Joaquim, acabaram optando por educarem o filho em casa, apesar de eles próprios terem poucos anos de escolaridade. Foi Francisca que alfabetizou Ricardo, além de lhe ter ensinado as operações fundamentais da matemática.

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Nesse mesmo ano, o irmão Ronildo participou na primeira edição da OBMEP, tendo conquistado medalha de bronze. Empolgado, Ricardo decidiu tentar também no ano seguinte, e foi ouro! “Simplesmente não acreditei Como um garoto deficiente físico, vindo de família humilde, morando em um sítio isolado do interior do Ceará e que praticamente não teve acesso a uma sala de aula poderia conquistar uma medalha de ouro em uma competição de nível nacional?”Em 2005, a professora Erileuza Jerônimo, diretora da escola municipal Joaquim Alves de Oliveira, soube da sua situação e empenhou-se para que Ricardo pudesse ter acesso ao ensino formal. A solução para vencer o problema do deslocamento foi que os professores dessem aulas na casa dele. Foi assim que, aos 17 anos de idade, Ricardo se tornou aluno do 6º ano do ensino fundamental, depois de ter sido aprovado numa prova de validação de conhecimento.

Em 2007, foi bicampeão na OBMEP. A façanha mereceu destaque na cerimônia nacional de premiação, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro: foi convidado a subir ao palco para receber uma homenagem especial das mãos do então presidente da República, Lula. Mas Ricardo não parou aí: no total foram cinco medalhas de ouro (2006, 2007, 2008, 2009 e 2012) e duas de prata (2010 e 2011), além de outras tantas em competições escolares de astronomia e língua portuguesa.

O sucesso abriu algumas portas. Com o apoio da prefeitura, em 2008 a família mudou-se para o centro de Várzea Alegre, e Ricardo matriculou-se na escola municipal Presidente Castelo Branco, onde pode finalmente frequentar a sala de aula e onde viria a concluir a educação básica.

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