Navegar

17/02/2020

O Globo destaca Workshop Matemática e Indústria

Augusto Teixeira, pesquisador do IMPA, falou sobre blockchains

O Workshop Matemática e Indústria, realizado no IMPA nos dias 13 e 14 de fevereiro, foi tema de reportagem no Jornal O Globo. A matéria “Empresas buscam na academia a resolução de seus problemas”, publicada no sábado (15), reforçou que a combinação entre o setor de negócios e universidades pode trazer bons resultados para os dois lados. Além de pesquisadores, o workshop recebeu gestores de empresas que estão à procura de talentos. 

O evento promovido em parceria com o Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) da USP, reuniu mais de trezentas pessoas. Na reportagem, o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, reforça que é possível conciliar projetos acadêmicos com a indústria, como já acontece em outros países. Para Viana, os setores são “perfeitamente compatíveis”. Confira a matéria. 

Leia também: Definida equipe do Brasil para olimpíada romena
Oficinas de discussão de problemas encerram workshop
Setores de Finanças e Mercado buscam talentos matemáticos

Reprodução do jornal O GLOBO

Foi de um projeto na Universidade Stanford, o BackRub, que surgiu o motor de pesquisas do Google. O Facebook foi criado quando Mark Zuckerberg estudava na Universidade Harvard. A própria internet surgiu a partir de pesquisas científicas em universidades americanas, e a World Wide Web foi criada na Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear. Esses são alguns exemplos que mostram a conexão da indústria da tecnologia com a academia, prática comum em muitos países, mas ainda mal vista no Brasil.

Nesta quinta e sexta-feira, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) recebeu o 1º Workshop Matemática e Indústria, com a presença de representantes das empresas Hurb (antigo Hotel Urbano), Stone, Petrobras e McKinsey & Company. Thomaz Cortes, da McKinsey, aproveitou a oportunidade para apresentar a empresa a possíveis interessados em uma oportunidade de carreira.

— Hoje, o nosso principal gargalo é a falta de talentos — afirmou Cortes, sobre o crescimento da subsidiária QuantumBlack, braço da consultoria para análise de dados. — Procuramos talentos muito específicos, com curiosidade intelectual imensa, background muito avançado, que consigam trazer técnicas novas.

Para além da busca de mão de obra, o contato com a academia visa resolver questões por vezes insolúveis dentro das empresas. Carlos Rios, diretor de tecnologia do Hurb, ressalta que muitas vezes a teoria não tem espaço dentro das companhias, que já estão acostumadas com seus processos. Como o negócio está caminhando, a inovação pode ser limitada:

— Hoje, você dorme e acorda e surgiram duas start-ups resolvendo um problema que você tentava resolver há dez anos — brincou. — A aproximação não serve só para pegar a galera que está saindo da faculdade, é para conhecer novas ferramentas, ver o que a gente consegue usar para resolver nossos problemas.

A participação no workshop é apenas parte da estratégia da empresa. No ano passado, o Hurb participou de dois eventos na UFRJ. O escritório aberto em Portugal fica propositalmente próximo da Universidade do Porto.

— Nos EUA, as empresas abrem escritórios ao lado das universidades, justamente para abrir canais de conversa — afirmou Rios. — Os funcionários publicam papers, continuam na faculdade, porque lá na frente isso vai servir para a empresa. O que precisa é de gente pensando. Para nós, quanto menos gente batendo tecla, melhor. Queremos profissionais ajudando a construir, não executando comandos.

Para Vinicius Carrasco, economista-chefe da Stone, não é só a indústria que ganha nessa relação. A resolução de problemas específicos para os negócios também pode gerar avanços científicos. Além disso, as empresas possuem poder computacional e grandes bancos de dados.

— A indústria tem um conjunto enorme de dados que pode ser usado como insumo para a pesquisa, com a aplicação de novos métodos de investigação — disse Carrasco. — E obviamente, o conhecimento e a técnica da pesquisa científica serão úteis para a indústria. É um grande círculo virtuoso.

Para proteger a ciência pura das preocupações cotidianas e da corrupção do capital, a defesa da Torre de Marfim é uma constante na academia brasileira. O financiamento privado de pesquisas é visto por muitos como algo a ser combatido, com o argumento de que os resultados podem ser direcionados para benefício dos contratantes. E a própria estrutura das universidades brasileiras repele essa relação. Muitos professores são contratados sob o regime de dedicação exclusiva, que impede a acumulação de outros empregos.

— No meio acadêmico existe um preconceito enorme. Quando você começa a fazer projetos para a indústria, as pessoas acham que está se prostituindo. Isso é uma estupidez — afirmou Marcelo Viana, diretor-geral do Impa. — Eu não tenho nada contra as pessoas ganharem um pouco mais de dinheiro trabalhando para outras empresas, e acho isso perfeitamente compatível com a carreira acadêmica.

Leia também: John Von Neumann, o mais inteligente da América
Viana: ‘Matemática tem enorme potencial a ser explorado’