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18/02/2020

Roberto Andrés defende tese de doutorado nesta quarta (19)

Para o paraguaio Roberto Andrés Viveros Vera, trabalhar com pesquisa científica é como estar em um quarto escuro, procurando por alguma direção. “Você começa a tatear as coisas, mas não sabe se elas vão te levar para algo incrível. Não tem como ser fácil.”

Prestes a defender a tese de doutorado “Polímeros Dirigidos e Caudas Pesadas”, depois de muito “tatear”, ele finalmente desvendou um objeto matemático precioso. O trabalho, orientado pelo pesquisador Hubert Lacoin, será apresentado nesta quarta-feira (19), às 13h, na sala 228.

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Nascido e criado em Assunção, Roberto entrou para o universo da matemática ainda na infância, com a leitura dos livros didáticos do professor cubano Aurelio Baldor. “Gostava de pegar um problema com uma equação e encontrar o ‘x’ para ela. Achava aquilo mágico, como um determinado número se encaixava perfeitamente.”

A aptidão com os números o levou a competir na Olimpíada Paraguaia de Matemática, rendendo uma medalha de ouro e muitos amigos. “Conheci os outros medalhistas e acabamos mantendo contato. A partir disso comecei a estudar bem mais”, conta.

De olho no mercado de trabalho, optou pelo curso de graduação em engenharia eletrônica na Universidade Nacional de Assunção. O contato com o professor Christian Schaerer, que trazia para a faculdade uma “cultura de pós-graduação”, fez com que Roberto começasse a considerar uma carreira na academia. “Ele organizava cursos de duas semanas de um determinado tópico e chamava professores de outros países para participar.”

Motivado por estas experiências, veio ao IMPA em 2008 para um Curso de Verão. “Gostei de tudo”, conta. As aulas de álgebra linear e probabilidade foram o ponto alto do período no instituto. Ao voltar para o Paraguai, já estava determinado a mudar o rumo profissional. “Não foi uma escolha difícil. O difícil foi terminar a faculdade de engenharia”, brinca.

Com o diploma em mãos, foi aceito no programa de mestrado do IMPA, onde começou a estudar a partir de 2014. “Já tinha amigos paraguaios que vieram fazer mestrado e doutorado aqui, o que me passou certa confiança”, conta Roberto, que veio para o Brasil já com acomodação garantida.

Não sentiu muitas diferenças sociais e culturais do Rio de Janeiro para a sua cidade natal. “São povos um pouco parecidos e a língua também não é muito diferente. Mas senti o impacto de morar em uma cidade realmente grande. Não ter o amparo da família também foi uma dificuldade”

O mestrando foi rapidamente incluído no grupo de alunos do instituto. “É um grupo acolhedor que está sempre marcando coisas, então é comum só sair com o pessoal daqui”, conta Roberto, que atualmente mora à confortáveis três quadras do local.

O mestrado foi um tempo de “aprender tudo o que queria”. Ao final do curso, a participação em um curso de seminário de pesquisa acabaram aproximando Roberto da área de probabilidade. “O professor Hubert Lacoin me indicou um artigo que eu adorei, e a partir daí começamos a pensar em um tema para o doutorado”, relembra Roberto, que não poupa elogios ao pesquisador francês que veio a ser seu orientador. “Ele foi muito paciente e presente. Me sugeriu problemas, leituras e me ajudou nos detalhes mais simples.”

O objeto escolhido foi o polímero dirigido. Mais especificamente, o doutorando busca, em sua tese, modelar o comportamento desta molécula quando ela está mergulhada em um solvente com impurezas. “Sempre gostei de probabilidade porque é uma área que pode ter aplicações em várias coisas diferentes no mundo.”

Nos últimos meses, para desanuviar a cabeça, começou a frequentar tradicionais rodas de samba da cidade, como a do Botequim Vaca Atolada, no Centro do Rio de Janeiro. “É uma manifestação cultural muito bonita. Não tem muita distinção entre quem está tocando e quem está ali como espectador”, comenta o engenheiro, que se inspirou para comprar um violão e voltar a praticar o instrumento. 

Para o futuro, Roberto planeja aplicar para pós-doutorados ao redor do mundo. O ambiente acadêmico é onde ele deseja estar, seja pelo prazer que sente em dar aulas ou pela mobilidade que proporciona, com a possibilidade de morar em diferentes países. Uma sensação, em particular, é um de seus principais motores. “A matemática é muito bonita. Às vezes ao ver uma prova de um problema, um resultado, você se comove profundamente. Não sei qual é o processo do cérebro que nos faz nos emocionar ao ver algo bonito, mas isso acontece com frequência na matemática.”

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