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07/06/2018

No G1, presos retomam estudos e participam da OBMEP

Reprodução do G1 São Carlos e Araraquara / Reportagem e fotos de Fabio Rodrigues

Afastado da escola há 11 anos, Paulo* decidiu retomar os estudos após ser preso pela segunda vez por tráfico de drogas. Aos 27 anos, ele cursa a sexta série na Penitenciária João Batista de Arruda Sampaio, em Itirapina (SP).

“Quando era mais novo, não gostava muito. Agora está sendo prazeroso”, contou o reeducando que participa pela primeira vez da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), que aplica a primeira fase das provas nesta terça-feira (5).

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Assim como ele, outros 1,3 mil detentos de nove unidades prisionais da região fizeram a inscrição para participar do exame. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), em todo o estado são 12,79 mil inscritos, 18,91% a mais em relação ao ano passado, quando 9,89 mil se inscreveram.

Em busca do diploma

Carlos, de 37 anos, vê na Obmep um incentivo para testar seus conhecimentos, mas independentemente do resultado, disse que o objetivo é manter o foco nos estudos.

Mecânico de profissão e preso há 1 ano e 10 meses por grampo telefônico, ele estudou até a sétima série 14 anos atrás. Atualmente cursa a oitava série, assim como uma das três filhas.

“Elas e minha esposa acharam muito bom eu retomar. Para mim, o estudo está sendo bom. Quero concluir e quando sair ter uma vida digna”, disse.

Confiança

Marcelo também quer sair do sistema prisional com o ensino médio completo. Preso há 8 meses por tráfico de drogas e porte de arma, ele contou que cursou até a oitava série cerca de dez anos atrás.

No presídio, retomou os estudos e disse que está valendo a pena. A afinidade com matemática traz confiança para um bom resultado na Obmep.

“A preparação foi tranquila, recebemos muita atenção dos professores. Às vezes pego o caderno no pavilhão e faço algumas contas, vou treinando quando tenho alguma dificuldade. Acho que vou me dar bem”, contou.

Pedro, de 34 anos, também está confiante. Condenado há 14 anos por assalto, ele aproveita o tempo para se dedicar aos estudos. “Ajuda a interagir, a sair da monotomia da cadeia. Aprender nunca é demais”, disse.

Trabalho e estudo

Dividida em seis pavilhões, a penitenciária II funciona há 19 anos em Itirapina e abriga 2,4 mil detentos. Desses, cerca de 600 trabalham, por meio de parcerias com oito empresas, e outros 236 estudam. Professores da Escola Estadual Professor Joaquim de Toledo Carmargo lecionam na unidade, explicou a diretora da escola, Rosana Maria Romualdo.

Segundo o diretor da penitenciária, Clemar Pinto Cabral, a procura por trabalho e educação é importante para o processo de ressocialização do preso.

“Quem está trabalhando ou estudando, é porque realmente quer mudar. Quando há interesse no estudo, a gente faz a matrícula. Para o trabalho, depende do número de vaga disponível”, explicou.

Há 18 anos na unidade, o diretor do Centro de Trabalho e Educação, Miguel Angelo Creca, disse que a busca dos presos por uma ocupação tem aumentado.

“A gente oferece sala de aula, estrutura, bons professores. Muitos reeducandos levam isso a sério. O preso trabalhando e estudando pode sair daqui e conseguir se encaixar no mercado de trabalho”, disse.

Para a professora de matemática Tatiane Fantin, aos poucos os alunos se desenvolvendo e participar da Obmep já é um grande estímulo nesse aprendizado.

A Obmep é realizada pelo Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), com o apoio da Sociedade Brasileira deMatemática (SBM), e promovida com recursos do Ministério da Educação e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Nº de inscritos na Obmep em presídios da região
Penitenciária de Casa Branca – 35 inscritos
Centro de Ressocialização de Mococa – 160 inscritos
Penitenciária I de Itapina – 160 inscritos
Penitenciária II de Itirapina – 203 inscritos
Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro – 70 inscritos
Centro de Ressocialização Masculino de Rio Claro – 155 inscritos
Penitenciária de Araraquara – 270 inscritos
Centro de Ressocialização Feminino de Araraquara – 90 inscritos
Centro de Ressocialização Masculino de Araraquara – 160


*Os nomes dos detentos foram modificados para preservar a identidade dos entrevistados.

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