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18/01/2023

Na Folha de S. Paulo, Viana fala sobre o papa matemático

Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo

O meu amigo Jorge Buescu, professor da Universidade de Lisboa e ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, escreve mensalmente sobre matemática na revista da Ordem dos Engenheiros de Portugal.

Seus artigos vêm sendo coletados em livros de que ele, gentilmente, me faz chegar exemplares. O mais recente, “Amor, Matemática e Outros Portentos”, que acabo de receber, me apresenta um personagem fascinante: Gerbert d’Aurillac, o papa matemático Silvestre 2°, que governou a cristandade na virada do primeiro milênio, entre 2 de abril de 999 e 12 de maio de 1003.

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Não sabemos bem onde nem quando nasceu, mas acredita-se que tenha sido por volta de 945 na região francesa de Auvergne, certamente de origem humilde. Aos 18 anos já tinha sido aceito no mosteiro beneditino de Saint Géraud d’Aurillac, sob a proteção do abade Raymond de Lavaur. Lá começou o “trivium”, o ciclo básico de estudos medievais, formado pela gramática, a retórica e a lógica. Mas os estudos avançados do “quadrivium”, formado pela geometria, aritmética, astronomia e música, estavam além do que o mosteiro podia oferecer.

Em 967, aproveitando uma visita de Borrel 2°, conde da Catalunha, o abade lhe perguntou se nos seus domínios existiam bons matemáticos. Tendo o conde respondido que sim, Raymond de Lavaur lhe pediu que levasse Gerbert com ele, para aprofundar seus estudos.

A Catalunha estava então na fronteira entre os reinos cristãos do norte da península Ibérica, imbuídos de um impulso irresistível de expansão territorial, e a sofisticada cultura do reino islâmico de Al-Andalus, a mais avançada da época. Os três anos em que permaneceu lá permitiram a Gerbert realizar todo o seu potencial como estudante. Acredita-se inclusive que tenha passado períodos em Córdova, a capital de Al-Andalus.

Em 970, Borrel 2° foi em peregrinação a Roma, levando Gerbert na sua comitiva. Apresentado ao papa João 13 e ao imperador romano Oto 1°, Gerbert deve ter causado forte impressão, pois o papa o recomendou como tutor do herdeiro imperial, o futuro Oto 2°. Dois anos depois, ele tornou-se professor da escola catedral de Reims.

Nessa época anterior à criação das universidades —a primeira só seria fundada em 1088, em Bolonha—, as escolas catedrais eram as instituições de ensino mais avançadas, e Reims, onde os reis da França eram coroados, era uma das mais prestigiosas da Europa. Lá, Gerbert alcançou o auge de sua fama como acadêmico.

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