Navegar

31/08/2022

Na Folha, Viana fala sobre 'matemática extraterrestre'

Crédito: Pexels

Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo

Em um dos capítulos do livro “Matemática: Fronteiras e Perspectivas”, publicado em 2000 pela União Matemática Internacional e pela Sociedade Americana de Matemática, o físico matemático belga-francês David Ruelle (n. 1935) recebe a visita da bela alienígena Pallas, que está escrevendo uma tese sobre a matemática da Terra, para uma discussão sobre como se compara à matemática de outros planetas.

Pallas é peremptória: “A verdade lógica é absoluta e igual em toda a parte. Ela não é determinada por circunstâncias sociais, nem pela estrutura particular da mente da espécie galática com capacidades matemáticas. Mas o estilo do conhecimento matemático depende enormemente da estrutura da mente que o produz.”

 
Ela explica que as civilizações mais avançadas da galáxia estudam a matemática por meio de gigantescos programas de computador, que lidam de maneira muito eficiente com os mais difíceis problemas. Um exemplo foi apresentado por Douglas Adams em seu “O Guia do Mochileiro das Galáxias”: um planeta inteiro roda um programa para descobrir “a pergunta definitiva sobre a vida, o universo e tudo”, depois que um computador um pouco menos parrudo concluiu que a resposta a tal pergunta é “42”.
 
Já os terrestres estudam a matemática com suas próprias cabeças, aponta Pallas com espanto. Por isso, a natureza da matemática terráquea depende da estrutura peculiar do cérebro humano e da forma como ele se organiza. “Um dia vocês irão evoluir —supondo que sobrevivam— e a matemática da Terra poderá se comparar à das grandes civilizações galáticas, por exemplo, a dos superpolvos gosmentos de Ix”, afirma, com otimismo ambíguo.
 
Baseado nessa discussão, Ruelle aprofundaria o tema alguns anos depois no livro “O Cérebro Matemático” (traduzido para o português em 2011), onde discute de forma mais detalhada a relação entre o saber matemático, tal como o conhecemos, e o funcionamento do nosso cérebro. Na ausência de informações confiáveis sobre os superpolvos gosmentos de Ix, ele apela para os computadores terrestres como termo comparativo. Vale conferir.