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13/11/2017

Impa enfrenta desafio de fazer mais com ainda menos recursos

Reprodução
do jornal O Globo

Quando assumiu a direção do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no fim de 2015, Marcelo Viana já sabia que teria um trabalho duro pela frente. Na época, encarava a perspectiva de ver o orçamento da instituição para 2016 reduzido em cerca de 30% frente ao ano anterior, ao mesmo tempo em que tinha que prepará-la para receber os dois maiores eventos da matemática mundial: a Olimpíada Internacional de Matemática, realizada em julho deste ano, e o Congresso Internacional de Matemáticos, previsto para ser aberto em agosto de 2018, no Rio.

Diante dessa situação, em entrevista ao GLOBO em janeiro de 2016, Viana reconheceu que teria que ser “imaginativo”. Mal sabia que a situação pioraria, exigindo ainda mais de sua criatividade: não só o corte para aquele ano se confirmou como o orçamento do Impa para 2017 teve nova redução, e nem assim foi integralmente cumprido: apenas R$ 55 milhões dos R$ 80 milhões previstos foram liberados este ano. Agora, em nova entrevista ao jornal, ele traça um cenário bem mais apertado para o ano que vem, com o cortes no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). A previsão é de apenas R$ 39 milhões para o custeio do Impa em 2018, menos da metade da dotação original para este ano.

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Reputação de excelência em risco

Na avaliação de Viana, este novo e radical corte nos recursos para o Impa coloca “em risco” a realização do congresso internacional marcado para o ano que vem caso a instituição não consiga algum tipo de suplementação, seja do governo ou da iniciativa privada, por meio de patrocínios. Se isso acontecer, serão fortes os impactos na ambição do Brasil de passar a integrar a “elite mundial” da Matemática e até na imagem internacional do país, considera.

Também ficará arranhado o sucesso do Impa, que em apenas 65 anos de existência, completados no mês passado, construiu uma reputação de excelência que o põe lado a lado com instituições seculares como as universidades de Cambridge e Oxford, no Reino Unido, e de Chicago e Princeton, nos EUA.

— Não podemos jogar fora mais de 60 anos de trabalho — desabafa Viana. — Não chegamos para sediar o congresso, que acontecerá pela primeira vez no Hemisfério Sul, da noite para o dia. Foram décadas para colocar o Brasil no topo da matemática mundial, posição que os cortes colocam em risco. Então, vamos ter que encontrar um jeito de contornar essa situação.

Outra grande preocupação de Viana é com a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), que desde 2005 contribui para disseminar e melhorar o conhecimento da disciplina no país, além de ajudar a revelar talentos na área. Este ano, a competição promovida pelo Impa contou com a participação de escolas particulares pela primeira vez, num total de 18 milhões de alunos de 53 mil instituições públicas e privadas.

Segundo Viana, o evento requer investimentos da ordem de R$ 53 milhões, custeados em partes iguais pelo MCTIC e o Ministério da Educação (MEC), que ele não sabe se terá para sua realização no ano que vem [a parte do MEC está garantida no projeto de lei do orçamento].

— Pode parecer muito, mas são menos de R$ 3 por aluno — contabiliza o diretor do IMPA. — Se, dos R$ 39 milhões que esperamos ter no ano que vem, tivermos que tirar R$ 26,5 milhões para a Olimpíada, não vai sobrar para pagar salários nem a conta de luz. 

Mas a reputação de excelência do Impa pode ser justamente a saída, pelo menos para a instituição, em meio à para a grave crise que atinge a ciência no país. Com um modelo de gestão conhecido como “organização social”, o instituto tem mais flexibilidade para buscar apoio financeiro junto à iniciativa privada e controlar seus gastos, tanto que já conta com alguns casos de “mecenato”, em que empresas e mesmo indivíduos ajudam a bancar a contratação de alguns pesquisadores.

— Tivemos que reduzir custos e adequar nossas expectativas a esta nova realidade orçamentária — diz Viana. — Mas também procuramos fontes alternativas para realizar estes projetos, sobretudo os em torno do “Biênio da Matemática”, declarado pelo Congresso Nacional para 2017 e 2018 numa lei que nos dá um “guarda-chuva” institucional, sobretudo para os dois grandes eventos do período: a Olimpíada Internacional de Matemática, que já organizamos, e seu ponto alto, que será Congresso Internacional de Matemáticos no ano que vem. Estamos lutando por outros apoios além da esfera pública, atraindo patrocinadores.

 Reportagem de Cesar Baima