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21/06/2022

IMPA 70 anos: o caminho para a elite da matemática

Coletiva de imprensa anuncia promoção do grupo de elite da IMU

Um dos principais marcos da internacionalização do IMPA e da matemática no Brasil é a evolução do país na União Matemática Internacional (IMU). O Brasil ingressou na organização em 1954, dois anos após a refundação da IMU. Inicialmente membro do Grupo 1, o mais baixo entre os integrantes, o país foi progredindo ao longo dos anos até ser promovido, em 2018, ao Grupo 5, o grupo de elite da matemática mundial, que reúne apenas 12 nações. E o IMPA teve um papel fundamental nesta evolução.

Atualmente, 87 países fazem parte da IMU. Além do Brasil, o Grupo 5 é formado pelos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Israel, Rússia, Japão, China e Coreia do Sul. Durante os 54 anos que levou para alcançar o topo da organização, o Brasil teve uma trajetória de crescimento notável. Portugal, por exemplo, ingressou na União no mesmo ano que o Brasil, mas até hoje segue no Grupo 3.

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Essa evolução só foi possível por uma série de fatores que garantiram o rápido progresso da matemática no país, mesmo que de forma tardia. Um dos fatos decisivos foi a criação, em 1951, do CNPq e da CAPES. No ano seguinte, a fundação do IMPA foi essencial para o desenvolvimento do ensino e da pesquisa no Brasil, que já vinham sendo realizados pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade do Brasil (atual UFRJ). A realização do primeiro Colóquio Brasileiro de Matemática (CBM) pelo IMPA, em 1957, e a criação da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), em 1969, também são considerados marcos neste processo.

Após a entrada na IMU, o Brasil foi promovido ao Grupo 2 em 1978; ao Grupo 3, em 1981; e ao Grupo 4 em 2005. O caminho foi pavimentado por Jacob Palis, que foi diretor do IMPA e atuou na diretoria da IMU de 1991 a 2002, primeiro como secretário e depois como presidente, em um período de intenso crescimento do prestígio e do reconhecimento do instituto no exterior. Em 2006, já no Grupo 4, as publicações científicas do Brasil em matemática representavam 1,53% da produção matemática mundial, com 1.043 artigos. Uma década depois, pouco antes de subir ao grupo de elite, a produção chegou a 2,35% (2.076 papers).

O atual diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, participou do processo de candidatura do Brasil ao Grupo 4 e reuniu experiência para o momento oportuno de pedir a promoção do país ao grupo de elite. “Em 2014, o Artur (Avila) ganhou a Medalha Fields, nós conquistamos o direito de organizar o Congresso Internacional de Matemáticos (ICM), então pra mim ficou claro que 2018 era a hora certa. Nós estaríamos organizando o congresso, a assembleia geral acontecendo no Brasil, a Medalha Fields, tudo isso eram argumentos de peso”, explicou Viana.

A carta de candidatura, encaminhada à União Matemática Internacional pelo IMPA e pela SBM em 2017, destacava aspectos importantes sobre a matemática no Brasil. Além de ressaltar a qualidade do ensino e da pesquisa desenvolvidos no país, o documento ainda tratou do processo de popularização da matemática no país, da cooperação internacional com os principais institutos do mundo todo, a realização e o desempenho dos estudantes nas olimpíadas de matemática e o trabalho das mulheres na área. 

A mudança de classificação dos países é decidida pela IMU após recomendação do Comitê Executivo. São analisadas informações como o número e a qualidade de programas de pós-graduação e sua distribuição territorial, o total de publicações científicas divulgadas em meios importantes e os nomes de destaque na área. A promoção do Brasil à primeira divisão da matemática mundial, anunciada em 2018, veio como consequência da contribuição brasileira à matemática mundial e reconheceu a excelência do trabalho da pesquisa nacional. 

“É difícil resumir em poucas palavras porque o Brasil virou esse exemplo de desenvolvimento da matemática. Houve lideranças de uma estatura superior que conduziram esse processo – Jacob (Palis), certamente, Manfredo do Carmo, Maurício Peixoto -, então, esse é um dos ingredientes. Houve também um investimento do Brasil em ciência. A cada ano, há cortes de orçamentos, mas quando se olha ao longo das décadas, houve um investimento em ciência razoavelmente consistente. Além disso, a matemática é uma ciência muito protegida de controvérsias. Mesmo quem é negacionista da ciência não consegue ser negacionista da matemática, o que também nos protegeu. E o papel singular do IMPA nesse processo não deve ser desprezado. Até por nossa insistência em internacionalizar, em abrir pro exterior, nós ajudamos muito nesse processo”, afirmou o diretor-geral do IMPA.

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