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14/06/2023

Folha: Viana conta trajetória de Nicholas Saunderson

Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo

O teólogo, historiador e matemático inglês William Whiston (1667–1752), professor na Universidade de Cambridge, tinha ideias religiosas pouco ortodoxas para a época. Entre outras, rejeitava a doutrina católica da Trindade, que considerava de origem pagã. Isso foi demais para as autoridades universitárias, que, em 1710, o demitiram da posição de Professor Lucasiano e o expulsaram da instituição. Foi substituído por um personagem ainda mais notável.

Ainda bebê, Nicholas Saunderson (1682–1739) pegou varíola, doença que na época costumava ser fatal. Sobreviveu, mas perdeu a visão para sempre. Isso não o impediu de adquirir uma boa educação: aprendeu matemática com o pai e acredita-se que se tenha alfabetizado lendo inscrições tumulares com os dedos.

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Em 1707, passou a residir em Cambridge: não foi admitido como aluno, mas podia usar a biblioteca. Sob a proteção de Whiston, foi autorizado a lecionar, dando aulas de matemática, astronomia e ótica, com muito sucesso entre os alunos. A pedido de alguns dirigentes, em 19 de novembro de 1711 recebeu o título de mestre, mesmo não tendo a graduação, o que o tornou elegível para substituir Whiston. Foi eleito Professor Lucasiano logo no dia seguinte, derrotando o candidato adversário por 6 votos a 4.

Professor talentoso e carismático, Saunderson contribuiu muito para a valorização da matemática no currículo da Universidade de Cambridge e para a divulgação das ideias de Newton. Seu livro “Método das Fluxões Aplicado a um Número Selecionado de Problemas Úteis”, publicado após a sua morte, foi a primeira exposição sistemática do cálculo diferencial. Embora não costumasse publicar seus trabalhos, notas de suas aulas circulavam amplamente. Algumas foram coletadas em “Os Elementos da Álgebra em Dez Livros”, outra obra póstuma.

Alguns historiadores atribuem-lhe a descoberta do Teorema de Bayes, um importante resultado matemático que está na base do espetacular desenvolvimento recente da inteligência artificial. Embora o teorema leve o nome do reverendo Thomas Bayes (1701–1761), sabemos que era conhecido antes e Saunderson pode realmente ter sido o primeiro.

Na “Carta sobre os Cegos para Uso daqueles que Podem Ver”, publicada em 1749, o filósofo francês Denis Diderot (1713–1784) discute como o conhecimento é alcançado tanto pela percepção quanto pela razão. Saunderson surge como personagem, representando alguém em quem os sentidos são substituídos pelo gênio lógico, na busca por entender a divindade.

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