Folha: "Na literatura, matemática é arma de sedução"
Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo
Escrevi aqui na semana passada que as referências à matemática em obras literárias são bem mais frequentes do que se imagina. Vejamos mais alguns exemplos.
O francês Georges Perec (1936–1982) é um dos expoentes do grupo de pesquisa literária OuLiPo (abreviatura de Oficina de Literatura Potencial, em francês), formado por escritores e matemáticos que propõem libertar a escrita, de modo aparentemente contraditório, sujeitando-a a diferentes tipos de restrições.
Leia mais: Brasil conquista duas medalhas de bronze na EGMO 2023
IMPA abre chamada pública para bolsa de pesquisa PCI
Folhinha estreia desafios de lógica em parceria com o IMPA
Em 1978, Perec foi distinguido com o prêmio Médicis por “A Vida Modo de Usar“, em que descreve com minúcia vertiginosa um edifício parisiense e seu conteúdo. Entre outras originalidades, a narrativa se move de um cômodo para outro conforme o movimento do cavalo no tabuleiro de xadrez: um passo numa direção, dois na direção ortogonal. O estudo matemático do movimento do cavalo foi iniciado no Ocidente por ninguém menos do que Leonhard Euler, mas remonta ao século 9° na Índia.
Ao final do romance de mistério “O Homem Magro“, publicado em 1934 pelo norte-americano Dashiel Hammet (1894–1961), o detetive Nick Charles e sua esposa, Nora, discutem a diferença entre a teoria e a prática na investigação policial. “Quando os assassinatos são cometidos por matemáticos, você pode resolvê-los usando matemática”, afirma Nick, acrescentando: “mas na maioria dos casos, não são, e este que acabamos de resolver certamente não foi”.
A matemática é útil também na arte da sedução. Pelo menos é o que dá a entender o romancista russo Fiódor Dostoiévski (1821–1881) em sua obra-prima “Crime e Castigo”.
No livro, Dmitry Razumihin conversa com o doutor Zossimóv sobre uma dama em que ambos estão interessados. “Ela não quer saber se sou eu ou você, desde que alguém sente do lado dela e suspire. Veja, você é bom em matemática e está trabalhando no tema atualmente. Comece por ensinar-lhe cálculo integral! Pela minha alma, não estou brincando, dará no mesmo para ela. Ela olhará para você deslumbrada e suspirará durante um ano.”
Thomasina Coverly, a protagonista da peça “Arcádia”, publicada em 1993 pelo dramaturgo inglês Tom Stoppard (1937), é uma adolescente precoce, com conhecimento e ideias sobre matemática e outras ciências muito além da sua idade.
Para ler o texto na íntegra acesse o site do jornal.
Leia também: IMPA é homenageado com medalha Pedro Ernesto
Abertas as inscrições para Escola Brasileira de Probabilidade