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02/08/2023

Folha: A civilização da Suméria e o planeta Netuno

Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo

Na noite de 23 de setembro de 1846, o astrônomo Johann Gottfried Galle observou Netuno no céu pela primeira vez. Foi a consumação de uma grande façanha da ciência. A existência do oitavo planeta fora aventada para explicar o movimento de Urano, que parecia não seguir a lei da gravitação. E os cálculos do matemático Urbain Le Verrier indicaram onde mirar o telescópio para encontrar o novo astro. “Le Verrier encontrou Netuno na ponta de sua caneta”, escreveu o colega François Arago.

Na arqueologia há um caso igualmente notável de uma civilização encontrada “na ponta da caneta”. Desde o século 17, viajantes e estudiosos vêm escavando na Mesopotâmia centenas de milhares de tabuletas de argila com textos em escrita cuneiforme. As primeiras descobertas, em ruínas da Assíria e da Babilônia, foram seguidas de outras relativas a uma civilização ainda mais antiga, a Acádia, o primeiro império da história.

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À medida que as línguas desses povos, todas da família semita, foram sendo decifradas, ficou patente um estranho paradoxo. Nesse estágio do desenvolvimento da escrita, os caracteres podiam ser lidos de duas formas alternativas: como ideogramas, designando um objeto, ou como fonemas, representando o som do nome desse objeto. Um pouco como se em português usássemos o desenho de uma pá para representar tanto a própria ferramenta quanto o som da sílaba “pa”. Ao leitor cabia decidir, a partir do contexto, qual das duas leituras fazia mais sentido em cada caso.

O paradoxo é que em acadiano o som associado ao caractere era frequentemente distinto do nome do objeto nessa língua. Continuando com a nossa metáfora em português, era como se o fonema do desenho da pá fosse “si” ao invés de “pa”. Como explicar isso? Foi sugerido que os acadianos teriam adaptado a escrita de uma civilização ainda mais antiga, e que esses fonemas corresponderiam aos sons nessa outra língua. De fato, foram descobertas tabuletas com duas colunas, como se fossem dicionários: uma com palavras acadianas, outra com termos desconhecidos, claramente não-semitas. Mas quem era esse povo antigo que sumira sem deixar rastro?

Para ler o texto na íntegra acesse o site do jornal.

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