Daniel López defende tese sobre monodromia nesta quinta (22)
Prestes a concluir o doutorado no IMPA, o colombiano Daniel Felipe López aponta, em clima de despedida, que o acolhimento que recebeu do instituto durante os últimos seis anos foi um aliado na sua trajetória acadêmica. “A instituição oferece toda a estrutura e apoio para o aluno se concentrar na matemática e não se preocupar com outras coisas, como burocracias. Os funcionários e professores estão sempre prontos para te ajudar.” Nesta quinta-feira (22), López defende a tese “Acerca das órbitas da ação de monodromia”, às 13h30, por videoconferência. A apresentação estará disponível no canal de YouTube do IMPA.
O trabalho foi orientado pelo pesquisador Hossein Movasati, e é sobre ações de monodromia em exemplos de geometria simplética e folheações holomórficas. Para ilustrar sua pesquisa, López recorre à imagem de donuts dispostos sobre um plano. “Se você cortar uma fatia do donut, terá um círculo. A partir disso, você terá pontos onde esta fatia do donut deixa de ser um círculo e se torna um ponto no plano, que chamamos de singularidades. Ao traçar um caminho no plano e olhar as fatias em cada donut, é possível reparar que elas mudam quando você circunda uma singularidade. A monodromia estuda como esses ciclos mudam quando você circunda singularidades.”
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O doutorando nasceu e cresceu em meio à natureza de La Mesa, cidade que fica a 65 quilômetros de Bogotá. Viveu uma infância tranquila, amparado pelo carinho e a segurança da família. Por conviver com poucas referências de matemáticos em sua cidade, acabou optando por estudar engenharia. “O estilo de vida era muito parecido com o de uma cidade do interior, então a realidade das coisas se perdia um pouco. A ideia de estudar matemática parecia menos interessante do que estudar engenharia, por exemplo”, relata.
Durante a graduação na Universidade Distrital Francisco Jose de Calda, em Bogotá, sua preferência pela parte teórica da engenharia o fez se inclinar cada vez mais para a matemática. Foi quando decidiu ingressar no curso de graduação da disciplina da Universidade Nacional da Colômbia, que frequentou ao mesmo tempo.
A experiência em universidades públicas lhe imprimiram um olhar mais empático sobre a realidade do seu país, ele conta. Para o doutorando, a instrução escolar deve vir acompanhada de responsabilidade social. “Não devemos nos isolar em uma torre de marfim, o que às vezes acontece na academia. Pelo contrário, devemos nos tornar parte do que acontece na sociedade, o que muitas vezes implica em assumir uma posição política.”
Como muitos de seus professores da Universidade Nacional da Colômbia haviam sido alunos do IMPA, López escolheu o instituto como destino para o mestrado. “Na graduação e no mestrado minha experiência foi de descobrir algo novo. Tanto em relação aos estudos, quanto aos desafios de mudar de vida, trocar de cidade e de país”, ele diz. Apesar de ter se sentido inicialmente intimidado por estas mudanças, o doutorando acredita que elas costumam valer a pena. “Depois de um tempo, você se dá conta que vai conseguir, e percebe que estes desafios têm um encanto único.”
A aproximação com a monodromia, tema de sua tese, se deu ainda no mestrado, quando trabalhou com abordagens para a geometria simplética e o estudo das folheações. Já durante o doutorado, sua abordagem foi sendo reformulada conforme ele se aprofundava na teoria. Uma das motivações para pesquisar a área é sua ligação com problemas de geometria complexa e simplética. “Um exemplo é o famoso problema dos centros na folheações holomórficas, formulado por Alcides Lins Neto. Ele permanece em aberto, e os resultados mais importantes obtidos até hoje vieram do estudo de monodromia.”
A orientação de Movasati foi fundamental para que o doutorando superasse as dificuldades que encontrou em sua pesquisa. “Quando eu tinha minhas ‘contradições’ matemáticas, ele me ajudava a resolvê-las ou mudar minha abordagem. Movasati constantemente me encorajava a falar em palestras e apresentar meus resultados, por menores que eu acreditava que fossem.”
A boa relação com os professores já tinha marcado a graduação e o mestrado do colombiano. “Cada um trouxe uma abordagem diferente para a matemática, que me permitiram ter uma visão um pouco mais ampla dela.”
Na vida acadêmica, López aprecia principalmente a liberdade de dispor do seu tempo, viajar e descobrir o mundo para além da matemática. Quando não está debruçado sobre os estudos, gosta de praticar esportes como rugby e natação, além de mergulhar nos livros que encontra em um sebo ao lado de casa.
O relacionamento com uma carioca transformou sua relação com a capital fluminense, conta. “Felizmente, conheci uma companheira que me mostrou o Rio de uma perspectiva mais local do que eu teria conhecido como estrangeiro. E, no final, me sinto como em casa”, celebra.
Se por um lado a pandemia da Covid-19 fez com que o doutorando se concentrasse mais profundamente em sua tese, por outro, complicou seus planos para os próximos passos acadêmicos. Aprovado para um pós-doutorado no Yau Mathematical Sciences Center da Universidade Tsinghua, em Pequim, López agora aguarda a obtenção de um visto chinês.
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