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01/03/2021

Da prisão, americano fez avanços na teoria dos números

Foto: Unsplash

Foi de um lugar completamente diferente da sala de aula que o americano Chris Havens descobriu o amor pela matemática. Em 2011, ele foi condenado a 25 anos de prisão por homicídio. E de uma solitária, no estado de Washington, nos Estados Unidos, tomou a decisão de mergulhar no mundo dos números. Diante da dificuldade de resolver algumas das questões, Havens encaminhou uma carta ao editor da revista Ciências Matemáticas (Mathematical Sciences Publishers), Matthew Cargo, em busca de uma solução. 

“Cumpro pena no sistema prisional e decidi usar esse tempo para me tornar uma pessoa melhor. Como os números se tornaram uma paixão para mim, estou estudando cálculo e teoria dos números”, disse. Ele também solicitou os Anais da Matemática e pediu ajuda para se corresponder com algum matemático, alegando que, por ser autodidata, se sentia frequentemente “empacado” em certos problemas.

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Ao receber a correspondência, Cargo recorreu a uma amiga, a pesquisadora Marta Cerruti, professora de engenharia de materiais na Universidade McGill, no Canadá, e filha de matemáticos, em busca de ajuda. “Meu pai, Umberto Cerruti, foi professor da Universidade de Turim, na Itália, e pesquisador da teoria dos números. No início, aceitou ajudá-lo apenas porque pedimos”, contou Marta ao portal The Conversation. O primeiro desafio foi lançado: Havens recebeu de Cerruti um problema e devolveu pelo correio uma folha de 120 centímetros com uma fórmula longa e complexa. Para a surpresa do professor, os resultados estavam corretos. 

Na sequência, Havens foi convidado por Cerruti a participar da resolução de um problema de frações contínuas. Suas contribuições feitas apenas com caneta e papel de sua cela chegaram a ser publicadas em janeiro de 2020 na revista Research in Number Theory. Com destaque, o trabalho demonstrou pela primeira vez a existência de uma série de irregularidades na aproximação de uma vasta categoria de números. O resultado pôde abrir novos campos de pesquisa, ao encontrar novas maneiras de escrever números. 

“Meus pais mandaram muitos livros para ele, mas os agentes da prisão bloquearam a entrada porque não vinham de um vendedor autorizado”, conta Marta. Para tentar reverter isso, Havens deu início ao que chamou de “Projeto de Matemática da Prisão”, uma série de atividades para ensinar a disciplina a outros presos. Em troca, passaram a ter uma biblioteca e uma sala para reuniões quinzenais.

Da cadeia, o americano segue em busca do diploma de associado em ciências pela Universidade Estadual de Adams, cumprindo a carga horária das aulas por meio de correspondências. E quando sair, pretende concluir o bacharelado e a pós-graduação. “Apesar das claras dificuldades que podem resultar de uma história criminal, ele quer iniciar uma carreira em matemática e espera ampliar o ‘Projeto de Matemática na Prisão’ para outros presidiários com dom para a matemática”, revela Marta, que mantém contato com Havens. 

* Com informações: BBC

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