Pesquisando, Escorcia aprendeu ‘linguagem universal da ciência’
Das coisas que mais aprecia na rotina da pesquisa acadêmica, o colombiano José Manuel Escorcia destaca a possibilidade de se comunicar com pessoas de diferentes partes do mundo pela “linguagem universal da ciência”. Prestes a concluir seu doutorado no IMPA, reconhece os ganhos que o contato próximo com a matemática pode trazer. “Ela tem o potencial de moldar a nossa personalidade. Você aprende a resolver problemas por meio de uma análise rigorosa, que mais tarde, se souber como fazê-lo, poderá aplicar nas tomadas de decisão da sua vida.”
Na segunda-feira (29), às 12h30, Escorcia conclui uma importante etapa da sua trajetória acadêmica. Ele defende a tese “Dinâmica pós-explosão para a equação de Schrödinger não linear”, orientada pelo pesquisador do IMPA Alexei Mailybaev. A apresentação será feita por videoconferência, com transmissão no YouTube do IMPA.
Nascido e criado na cidade costeira de Cartagena das Índias, na Colômbia, Escorcia recorda que seu gosto pela investigação, aspecto elementar da pesquisa científica, despontou ainda na infância. “Eu era aquele menino que gostava muito de desmontar meus brinquedos para descobrir se conseguiria montá-los de novo mais tarde. Isso realmente me divertia”, diz. A matemática figurava no topo das suas matérias preferidas, ao lado da física. Por causa de dificuldades financeiras em casa, começou a dar aulas particulares dessas matérias para alunos mais novos, o que lhe deu “mais maturidade” na disciplina.
Ao final do Ensino Médio, em uma escola pública de Cartagena, o colombiano seguiu o conselho de amigos e decidiu graduar-se em engenharia em vez de matemática, sua verdadeira paixão. Depois de um semestre
em que se viu extremamente entediado, arrependeu-se de não ter seguido a intuição. “A única coisa boa dessa experiência foi me ajudar a entender que na vida você tem de seguir o que gosta”, frisa.
Migrou para a graduação em matemática na Universidade de Cartagena, decisão que considera acertada. “Só o primeiro semestre foi suficiente para entender que era isso que eu deveria ter feito antes”, relata. Motivado, conseguiu excelentes resultados, que chamaram a atenção do corpo docente da Universidade de Porto Rico, onde ganhou uma bolsa para cursar o mestrado em matemática aplicada. “Minha experiência na graduação e no mestrado foi inesquecível, e contribuiu muito para o meu crescimento pessoal e profissional. Algo que sou grato à vida, na minha fase de graduação, é que isso me deixou excelentes amigos, ou melhor, meus melhores amigos”, avalia.
Doutorando abordou a equação de Schrödinger não-linear em sua tese
Em agosto de 2017, Escorcia desembarcou no Rio de Janeiro para o doutorado no IMPA. Apesar de já conhecer o instituto por meio de livros que consultava durante a graduação, ficou impressionado com o ambiente. “É uma instituição onde se tem a oportunidade de interagir e trabalhar com docentes que atuam em pesquisas de ponta.” Como fez um intervalo de três anos da academia entre o fim do mestrado e o início do doutorado, teve um pouco de dificuldade para engatar no ritmo nos primeiros anos. “Mas felizmente aos poucos me adaptei novamente. De resto, tenho boas experiências no IMPA e amigos com quem me divirto.”
Em sua tese de doutorado, o colombiano abordou a equação de Schrödinger não-linear. “Este é um modelo matemático que aparece, por exemplo, em dinâmica de fluidos e óptica não-linear, para citar alguns. A validade física deste modelo é interrompida em algum ponto. Por esta razão, neste trabalho é considerado um modelo mais completo através da adição de um novo termo na equação, a fim de estudar as propriedades das soluções deste novo modelo e assim manter a validade física exigida”, explica.
A troca como orientador foi fundamental para suavizar parte do processo. “Um bom relacionamento com o orientador é parte essencial para a satisfação do seu trabalho. E tivemos um relacionamento excelente. Tive o privilégio de sempre ter o apoio de Alexei e, sobretudo, sempre ter sua disponibilidade para debater ideias para enriquecer minha investigação.”
A variedade de atividades ao ar livre que a cidade do Rio de Janeiro proporciona também aliviaram a tensão de Escorcia no doutorado. “Gostava de fazer duas coisas: jogar futebol às sextas-feiras e passear ou andar de bicicleta nas praias de Copacabana. Foram duas atividades que gostei de fazer depois de uma semana árdua de trabalho.”
Ao contrário do que muitos pós-graduandos experimentaram, a pandemia facilitou alguns aspectos da reta final do programa. “Pude regressar ao meu país e trabalhar de casa com a minha família. O processo de conclusão do doutorado pode gerar pressões severas, mas no meu caso, por estar perto da minha família, todas essas pressões puderam ser superadas graças à proximidade dos meus entes queridos”, compartilha.
Ainda que não tenha planos concretos para o futuro, o colombiano tem a convicção de que não vai se retirar “da investigação”. “Sinto que através do meu trabalho posso impactar e contribuir para o bem de nossa sociedade. Isso me motiva a cada dia e me dá a garantia de que vale a pena”, conclui.