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14/10/2021

Olimpíadas definiram trajetória acadêmica de doutor do IMPA

Com problemas instigantes, que priorizam o raciocínio lógico em vez da repetição mecânica de fórmulas, as olimpíadas de conhecimento não raro transformam um despretensioso estudante da disciplina em, alguns anos depois, um brilhante profissional da área. Foi assim com o doutorando do IMPA Cristian Andrés González Riquelme, que define a participação nessas atividades como um “ponto crítico” para a decisão de se tornar matemático. “As olimpíadas me permitiram conhecer pessoas interessadas neste universo e ver de mais perto a experiência que é ser um matemático. Passei a perceber o quão interessante podem ser os problemas e como é divertido tentar resolvê-los”, conta.

Chileno de Villarrica, comuna de 50 mil habitantes localizada ao sul do país, começou a participar de olimpíadas de matemática aos 14 anos, quando cursava o ensino médio em uma escola da região. A partir dali, viveu uma trajetória-relâmpago neste universo. Conquistou um total de seis medalhas em competições como as Olimpíadas Nacionais do Chile, Olimpíada de Matemática do Cone-Sul e Olimpíada Ibero-americana de Matemática. O ponto alto do seu bom desempenho olímpico veio com o bronze na Olimpíada Internacional de Matemática (IMO, na sigla em inglês), em 2012.

No dia 5 de outubro, Cristian concretizou mais uma conquista nesta trajetória de fôlego. Ele defendeu, por videoconferência, a tese “Propriedades finas de operadores maximais”, orientada pelo pesquisador Emanuel Carneiro. 

Objeto de pesquisa em análise harmônica

O objeto de pesquisa de Cristian pertence à análise harmônica, área da matemática que tem como um dos principais objetivos entender o comportamento oscilatório de determinados objetos. O doutorando destaca que, dentro da área, existe um objeto de particular relevância: os operadores maximais. “Nossa linha de pesquisa tenta entender um fenômeno que acontece: sendo estes operadores construídos para controlar a magnitude de certas coisas, eles também são bem comportados do ponto de vista oscilatório”, explica.

Cristian tomou conhecimento do problema através do seu orientador. O assunto o atraiu por dois motivos específicos. “A importância do tipo de objetos que estudamos e a simplicidade dos enunciados, definições e problemas, que contrastam com a natureza às vezes sofisticada das ideias das provas”, elenca. Entre as dificuldades para se estudar o tema, ele destaca a escolha de ferramentas. “Trabalhamos em um contexto onde a maioria das ferramentas clássicas não funcionam, então a gente precisa construir ferramentas ‘tailor-made’ para estes tipos de problemas.”

Experiência no IMPA

O chileno cursava a graduação em engenharia na Universidade do Chile, em Santiago, quando viajou ao Brasil para o curso de verão do IMPA, em 2014. “Tinha ouvido falar do IMPA desde meu primeiro ano de graduação lá no Chile. Sabia que muitos matemáticos chilenos tinham feito o mestrado ou doutorado no instituto”, conta. Depois da experiência, foi convidado pelos pesquisadores Claudio Landim, diretor-adjunto do IMPA, que viria a ser seu orientador de mestrado, e Milton Jara, para fazer um ano de cursos livres na instituição. Deixou a graduação em engenharia para cursar matemática aplicada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que frequentou em paralelo ao mestrado do IMPA.

“Aqui temos uma infraestrutura boa, excelentes pesquisadores e alunos talentosos. Tive a sorte de ter como colegas pessoas muito capazes e trabalhadoras. Isso é sempre motivante, além de ajudar em caso de alguma dúvida”, destacou o doutorando. Na reta final para a defesa de sua tese, ele lamenta por experiências desta etapa da vida acadêmica que foram prejudicadas por causa da pandemia. “Passei muito tempo trabalhando sozinho no meu quarto, o que não foi algo muito saudável. Além disso, [a pandemia] significou o cancelamento de conferências, viagens e todas essas coisas que são importantes para um matemático em processo de formação. Mas certamente muitas pessoas foram mais afetadas do que eu. Não posso me queixar demais”, compartilha.

Uma coisa é certa, agora que tem o título de doutor, Cristian seguirá na academia. Entre os principais aspectos que aprecia no estilo de vida de um pesquisador estão a liberdade para organizar seu tempo, a possibilidade de conhecer pessoas de diferentes origens e personalidades e a profundidade com a qual encara seus objetos de interesse. “Gosto do fato de que o pesquisador dedica muito tempo a entender coisas e superar desafios através do entendimento e a criatividade, o que é bem satisfatório quando as coisas dão certo”, comenta.