Olimpíada Internacional traz ao Brasil os craques da Matemática
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Já estão chegando ao Rio de Janeiro as delegações vindas de todo o mundo para participar na Olimpíada Internacional de Matemática. Organizadores internacionais, membros do júri e outros responsáveis chegaram antes para preparar os detalhes da prova que será aplicada em 18 e 19 de julho. E em 22 de julho teremos a grande festa da entrega das medalhas.
A IMO (International Mathematical Olympiad, em inglês), é a maior, mais antiga e mais prestigiosa olimpíada científica para alunos do ensino médio. Ser escolhido para a delegação do seu país é uma distinção tão grande para um jovem matemático quanto para um jogador de futebol estar na seleção nacional.
A IMO é organizada anualmente, sempre em um país diferente. A primeira aconteceu na Romênia em 1959, com 52 alunos de sete países. A mais recente foi em Hong Kong em 2016, com 602 alunos de 109 países. A edição 2017 está sob a responsabilidade do Impa e da Sociedade Brasileira de Matemática e é a primeira no nosso país. Com 623 alunos, de 111 países, já é a maior da história da competição.
Cada país participa com seis alunos, embora seja permitido excepcionalmente que países com pouca tradição enviem delegações menores. Também integram o time dois professores: o líder, que tem um papel fundamental “defendendo” as respostas dos alunos para obter a melhor pontuação possível, e o vice-líder, responsável por acompanhar a equipe e tratar de todas as questões práticas.
A delegação brasileira foi apresentada publicamente em 13 de junho: André Hisatsuga (São Paulo-SP), Bruno Meinhart (Fortaleza – CE), Davi Sena (Recife – PE), George Lucas Alencar (Fortaleza – CE), João César Vargas (Passa Tempo – MG) e Pedro Henrique de Oliveira (Campinas – SP), com os professores Krerley Oliveira (Maceió – AL) e Frederico Girão (Fortaleza – CE) como líder e vice-líder, respectivamente. João César, Pedro Sacramento e George Lucas são “veteranos” da IMO 2016, na qual os dois primeiros ganharam prata e George Lucas bronze, respectivamente.
A prova consiste de seis questões, elaboradas pelo júri internacional, três em cada dia. Os desafios costumam focar temas com poucos requisitos teóricos –geralmente da aritmética, geometria ou combinatória– para serem compreensíveis para alunos do ensino médio. Mas isso não quer dizer que sejam fáceis. Pelo contrário! As questões da IMO exigem enorme concentração e uma centelha mágica de inspiração para encontrar a resposta rapidamente.
Isso é muito diferente da prática da pesquisa na área, que costuma exigir conhecimentos teóricos muito sofisticados, em áreas diferentes, e um trabalho de reflexão em períodos muito longos. Por exemplo, o matemático inglês Andrew Wiles precisou pensar por mais de sete anos para encontrar a demonstração do famoso teorema de Fermat, em 1993.
Assim mesmo, a IMO é extraordinariamente eficaz para identificar brilhantes futuros pesquisadores. Por exemplo, 13 dos ganhadores da medalha Fields –o mais prestigioso prêmio da matemática– começaram suas carreiras como medalhistas de ouro na IMO. Entre eles, o brasileiro Artur Avila IMO em 1995 e medalha Fields 2014.
As edições 2015 e 2016 da IMO foram vencidas pelos Estados Unidos, mas há uma hegemonia da China: de 1999 para cá os chineses sempre alcançaram o pódio, 13 vezes como vencedores. Rússia e Coreia do Sul também são fortes candidatas às melhores colocações.
O Brasil começou a participar em 1979 –um ano depois da criação da Olimpíada Brasileira e Matemática– e não parou mais. Na primeira vez ficamos em 22º lugar entre 23 países. Em 2016 obtivemos o nosso melhor resultado: 15º lugar entre 109 países, com cinco medalhas de prata e uma de bronze. Ao longo dos anos, o Brasil acumulou nove ouros, 41 pratas e 72 bronzes.
Nosso primeiro medalhista de ouro foi Nicolau Saldanha, em 1981. Ele também teve a “pontuação perfeita”, 42 pontos, pois gabaritou a prova. Só mais um brasileiro repetiu essa façanha até hoje: Ralph Teixeira, que também é o nosso maior campeão, com duas medalhas de ouro, em 1986 e 1987, a segunda com “pontuação perfeita”. Rodrigo Angelo e Henrique Pinto ganharam uma medalha de ouro e duas de prata cada um. Já Rui Viana e Gabriel Bujokas trouxeram para casa um ouro e uma prata cada um.
Carlos Gustavo Moreira, o meu colega e amigo Gugu, foi bronze na IMO de 1989, aos 16 anos. Nesse mesmo ano foi ouro na Olimpíada Iberoamericana, em Cuba: o único desapontamento foi não ter podido conhecer pessoalmente o herói Fidel Castro. Em 1990, Gugu ganhou mais uma medalha na IMO, desta vez de ouro. Ainda participou na Iberoamericana daquele mesmo ano, mas foi desclassificado –depois que a prova já estava corrigida!– por já ter sido laureado na Olimpíada Internacional. Assim mesmo, ganhou o computador destinado ao candidato com melhor pontuação. Em uma época em que ninguém tinha essa mordomia, dá para imaginar a inveja dos colegas… Ainda mais que o Gugu usava o computador com a maior seriedade, para jogar videogames no Impa enquanto os demais trabalhavam e estudavam.
Os registros da IMO são incompletos quanto ao gênero dos alunos, mas é evidente que a presença de meninas é minoritária, em torno de 10% ou menos. Uma delas foi a iraniana Maryam Mirzakhani, ouro na IMO em 1994 e 1995 e primeira mulher a ganhar a medalha Fields, em 2014.
Para ajudar a mudar esse cenário, o Brasil propôs a criação de um troféu especial –intitulado Olympic Girls Impa Award– que irá distinguir as equipes que obtenham mais pontos “femininos”, isto é, nas provas das alunas. Essa ideia foi aceita pelos organizadores internacionais da IMO e deverá ser replicada nas edições seguintes. Além disso, promoveremos uma mesa redonda sobre a mulher na ciência. Espera-se que estas iniciativas chamem a atenção para a importância da diversidade, incentivando o aumento da presença feminina.
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