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02/12/2021

No blog Ciência e Matemática: O Vermeer quase perfeito

Artigo publicado no blog Ciência e Matemática do jornal O Globo, coordenado pelo diretor-adjunto do IMPA, Claudio Landim.

A história da arte é construída a partir da relação entre as obras e o período em que elas são feitas, dando um contexto do movimento artístico presente baseado na evolução que liga o passado das obras às possibilidades do futuro. Quem escreve tal contextualização são os críticos de arte. A história foi reescrita algumas vezes com a ajuda da matemática após uma discussão sobre um dos artistas holandeses mais conhecidos do século XVII, chamado Johannes Vermeer. Uma das obras-primas do pintor é a Moça com o brinco de pérola, pintada em 1665.

Outra obra prima havia sido perdida ao decorrer da história, e foi reencontrada em 1937 por Abraham Bredius, colecionador, historiador de arte e curador. Tal obra foi comprada pelo equivalente hoje a 4.6 milhões de euros, e chama-se Os discípulos em Emaús.

Esta pintura sumiu mais uma vez durante a segunda guerra mundial, e só reapareceu em 1945 na coleção de um oficial alemão, Hermann Göring. Oficiais foram responsáveis por repatriar obras de arte roubadas na guerra, e os documentos alemães indicavam que o vendedor original era um pintor e comerciante de arte chamado Van Meegeren. Quando ele se recusou a nomear o dono original de tal pintura, foi preso por traição. A pena para traição, se culpado, era de morte. Para ver-se livre das acusações, Van Meegeren disse que havia pintado vários quadros e mentido ao vender ao dizer que eram originalmente do Vermeer.

Van Meegeren tinha sua própria carreira artística, mas recebeu diversas críticas negativas quando jovem, dizendo que o seu talento era limitado à imitação de outros artistas e lhe faltava originalidade. Portanto, decidiu provar aos críticos que era capaz de produzir uma obra tão magnífica quanto obras de pintores geniais. E assim se deu o início da falsificação quase perfeita do Vermeer acima, que durou seis anos. Ele estudou a vida do Vermeer, as técnicas artísticas, a composição química das tintas e construiu pincéis parecidos com os originais. Ele inclusive comprou uma tela do século XVII, raspou a pintura antiga e pintou por cima utilizando químicos para dar um aspecto envelhecido. Por fim, ele levava a obra ao forno para aumentar o número de rachaduras das pinceladas e fazer com que a pintura parecesse ter 300 anos.

Para esclarecer os fatos, a corte pediu que fizessem testes para verificar a veracidade de algumas pinturas. Muitos dos testes indicaram que Van Meegeren era de fato um falsificador, mas a comissão ainda acreditava que ao menos uma das obras era genuinamente de Vermeer – a dos discípulos em Emaús. Em 1951, Jean Decoen, especialista em artes de Bruxelas e restaurador de pinturas, afirmou que todas as pinturas eram verídicas e genuínas do Vermeer. Assim ficou escrito na história da arte: Van Megeegen não era um falsificador, apenas um mentiroso.

Leia o artigo completo no blog Ciência e Matemática