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03/08/2017

Na Matemática, mulher tem só 10% de bolsas de produtividade

No Brasil, apenas 10% das bolsas de produtividade em pesquisa, na área de Matemática, são destinadas às mulheres. E a proporção permaneceu inalterada ao longo de uma década. Os dados foram apresentados pela professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maria Eulália Vares, na mesa redonda “Matemática: substantivo feminino – Desafios e perspectivas sobre a questão de gênero”, durante o 31º Colóquio Brasileiro de Matemática, realizado no IMPA.

“Em 2005, 10% das bolsas foram para mulheres. Em 2015, a proporção foi de 10,5%. Acho chocante isso”, destacou a matemática, citando dados do Conselho Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e chamando atenção para o fato de que as bolsas de pesquisa no país, em geral, são distribuídas de forma proporcional entre os gêneros, mas a disparidade cresce na medida em que aumenta o nível de especialização.

O debate foi o primeiro de uma série que vai discutir o tema ao longo do Biênio da Matemática 2017/2018 – os próximos serão realizados em outubro, nas universidades federais do Amazonas, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte. O intuito é dar visibilidade ao tema, identificar problemas, buscar saídas e coletar dados para apresentações no World Meeting for Women in Mathematics, marcado para julho de 2018, no Brasil.

Professora de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Marcia Barbosa relatou que, na Física, a situação também é crítica. Destacou a necessidade de se aumentar a participação feminina nos comitês científicos e chamou atenção para o que ela definiu como efeito tesoura: a participação da mulher decai à medida que ela avança na carreira. 

Marcia lembrou ter batalhado pela criação da licença-maternidade para bolsista de produtividade em pesquisa e considerou necessário existir também uma linha de financiamento para creches em eventos, medida que ela considera relevante para aumentar a participação feminina em congressos, simpósios e demais atividades acadêmicas.

Organizadora da mesa redonda, a pesquisadora do IMPA, Carolina Araújo, citou que o próprio Colóquio Brasileiro de Matemática revela a disparidade entre gêneros.  Segundo ela, dos 888 participantes, 23,5% são mulheres. A representação cai ainda mais entre os palestrantes (17%) e todos os minicursos são ministrados por homens.

Obstáculos

Nancy Garcia, do comitê organizador do colóquio, observou que há obstáculos para tornar a situação mais igualitária. No caso dos palestrantes, por exemplo, contou da dificuldade que é garantir a participação de mulheres, por causa das responsabilidades familiares.

“Precisaríamos de um financiamento para isso”, observou, chamando atenção para a necessidade de metas específicas para ir além da discussão e buscar medidas que causem impacto no cenário atual. “Como podemos organizar congressos de modo a incentivar a participação das mulheres? Precisamos de propostas mais específicas do que simplesmente discutir. Seria importante, por exemplo, termos um financiamento, um auxílio para isso”, sugeriu.

Após fazer um mea-culpa por ter ajudado a elaborar uma lista de nomes exclusivamente masculina para uma sessão temática na Unicamp, onde é pesquisador do Instituto de Matemática, Henrique Sá Earp propôs que os parceiros assumam a responsabilidade da família para que as mulheres participem com mais frequência de eventos acadêmicos.  “Esses homens não podem cuidar dos filhos?”, disse, sugerindo ainda a criação de creches nas universidades.