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24/06/2020

Na Folha, Viana pergunta: 'A matéria é feita de quê?'

Em 1904, Albert Einstein publicou quatro artigos que mudaram a compreensão sobre as leis da física – Science & Society Picture Library/Getty Images

Reprodução da coluna de Marcelo Viana, na Folha de S.Paulo

Cem anos atrás, a física estava bem bagunçada. A explicação do efeito fotoelétrico, que valeu a Einstein o prêmio Nobel da física de 1922, revelara que a luz se comporta de forma muito estranha: em alguns fenômenos parece ser formada por ondas, em outros parece consistir de partículas. Também, o modelo de Bohr-Sommerfeld descrevia muito bem o átomo do hidrogênio, mas fracassava embaraçosamente em explicar o comportamento dos demais átomos.

Pelo menos numa coisa havia consenso: a matéria é feita de partículas (elétrons etc). Até que, em 1924, o jovem estudante Louis De Broglie submeteu uma tese de doutorado na Universidade de Paris (Sorbonne) com uma sugestão perturbadora: tal como a luz, a matéria também teria natureza dual, ora ondulatória, ora corpuscular.

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Não havia evidência experimental e talvez essa especulação tivesse sido ignorada se não fosse por um detalhe: o tímido e reservado De Broglie pertencia a uma das grandes famílias aristocráticas da França, vindo a suceder a seu pai e seu irmão no título de duque. Foi seu irmão mais velho, Maurice, também físico —mas que de tímido e reservado não tinha nada— que pressionou o departamento de física para que a tese de Louis fosse tomada a sério.

Situação delicada para o chefe de departamento, Paul Langevin: recusar trabalho tão importante seria ruim para a reputação da Sorbonne, caso ele fosse correto, mas aceitar uma tese que depois se revelasse estar errada seria igualmente embaraçoso.

Langevin apelou para o amigo Einstein, que estava de visita, mas sem dar o braço a torcer. “É claro que sabemos o que fazer com a tese”, afirmou, “mas suas sugestões são muito bem-vindas.”

Não sabendo o que responder, Einstein enviou o trabalho ao amigo Pieter Debye, da Universidade de Zurique, o qual o passou ao jovem colega austríaco Erwin Schrödinger. “Estude esse artigo e apresente no seminário no mês quem vem.” Debye disse: “É uma teoria ondulatória estranha, não tem equações. Veja se consegue escrever algumas equações”.

Inicialmente, Schrödinger não ficou muito entusiasmado. Mas o emprego dele na universidade era temporário, tinha que mostrar serviço para impressionar o chefe. Retirou-se para um chalé nas montanhas suíças e voltou duas semanas depois com a informação de que a teoria de De Broglie não tinha nada de errado, e de que tinha conseguido deduzir duas equações. Ele viria a ganhar o prêmio Nobel da física em 1933, justamente pela formulação dessas equações.

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