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01/08/2017

Matemática da Uerj vence Prêmio L'Oréal para mulheres

Fonte: FOLHA DE S.PAULO

Apesar da crise pela qual passa a Uerj –cujos funcionários até mesmo tiveram seus salários atrasados e parcelados– e da crise do Estado do Rio de Janeiro, que afetou a liberação de verba para a pesquisa, um grupo de cientistas, comandado pela matemática Diana Sasaki Nobrega, pode comemorar.A pesquisadora é uma das sete vencedoras do prêmio Para Mulheres na Ciência, promovido pela L’Oréal em parceria com a Unesco e a Acadêmia Brasileira de Ciências e que já acontece há 12 anos no país. Cada uma receberá o valor de R$ 50 mil. O anúncio das premiadas será feito nesta terça (1º).

Diana sempre gostou de ensinar matemática –a primeira aluna foi sua bisavó, para quem tentava transmitir, ainda na infância, o que aprendia na escola.

A decisão de que queria tornar da matemática uma profissão veio no ensino médio, cursado no Colégio de Aplicação da UFRJ, onde também realizou sua formação superior: a graduação (Bacharelado em Matemática), e mestrado e doutorado na Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro), com um período-sanduíche na França.

Ela conta ter descoberto a área de pesquisa no final da graduação, quando cursou a disciplina de matemática discreta e teve contato com a teoria dos grafos, com a qual trabalha até hoje.

Se tivesse a chance de explicar para sua bisavó do que se trata, ela começaria dizendo que tem a ver com aquelas aulas de combinatória do ensino médio. Para ela, um exemplo de problema que esse conhecimento ajuda a resolver é o de professores e salas de aula em uma escola.

“O problema que eu estudo se chama coloração em grafos. São problemas de conflitos. No exemplo, havendo um número finito de salas, e um número finito de professores dispostos a dar aula, a ideia é atender a demanda com o mínimo possível de turnos.”

Quando o problema é muito grande o tem muitas variáveis, é necessário também usar conhecimentos de computação, explica.

“Grafo é estrutura matemática com vértices ligados por arestas, de forma que essas arestas representam uma conexão, uma relação entre os vértices. Eles podem modelar problemas reais como rotas de avião ou mapas de fronteiras entre países.”

Um exemplo famoso dessa área da matemática é o de coloração de mapas: em 1852 o matemático sul-africano Francis Guthrie levantou a hipótese de que seria possível colorir um mapa usando apenas quatro cores, de forma que os países com cores iguais nunca tivessem uma fronteira em comum. A solução final para a conjectura veio em 1976.

Concomitantemente a isso vieram outras questões, e uma delas é a “coloração dos grafos cúbicos”, tema de pesquisa da professora do departamento de matemática aplicada da Uerj, onde está desde 2015, após passar em um concurso público.

CRISE

“Todo o Estado do Rio de Janeiro está passando por necessidades financeiras, especialmente a Uerj. A gente infelizmente, desde quando entrei, enfrenta problemas financeiros com o salário, que atrasam e até mesmo são parcelados”, diz.

“Sofremos também por causa dos alunos, que dependem de bolsas de auxílio. É uma pena porque a universidade é boa, os alunos são bons e no momento estamos preocupados, mas estamos levando a situação da melhor forma possível.”

Diana acaba de ter bebê e, quando voltar da licença-maternidade, com o dinheiro do prêmio, ela pretende comprar computadores, projetores e outros itens para “melhorar o ambiente de trabalho” e atrair novos alunos para sua linha de pesquisa.

OUTRAS VENCEDORAS

Além de Diana, outras seis cientistas mulheres serão premiadas. A química Fernanda Tonelli, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), trabalha com peixes transgênicos, com a ideia de transformá-los em biofábricas –de hormônios, por exemplo. A biomédica Gabriel Nestal busca maneiras de tornar o tratamento contra o câncer, entre eles o de mama, mais eficaz.

Já a física da Jenaína Soares, da Universidade Federal de Lavras, estuda a estrutura de nanomateriais bidimensionais –compostos por poucas camadas de átomos–, como o grafeno, material feito com átomos de carbono e com diversas possíveis aplicações na indústria.

A bióloga Marilia Nunes, da Universidade Federal Rural da Amazônia, fez uma parceria com pescadores e realiza um projeto que monitora a variabilidade genética de espécies de peixe –algo imortante para programas de preservação de espécies ameaçadas, como o pirarucu.

Pâmela Mello-Carpes é fisioterapeuta e professora da Universidade Federal do Pampa e sua pesquisa tenta decifrar, em modelos animais, como a falta de cuidados parentais pode alterar a saúde dos filhotes.

A farmacêutica Rafaela Ferreira, da UFMG, pesquisa possíveis maneiras de tratar a doença de chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi (cujo vetor é o inseto barbeiro). O plano é achar alguma molécula que afete o funcionamento do parasita –e já há duas candidatas promissoras. Outra linha de pesquisa surgiu após os surtos de zika no país: Rafaela busca uma maneira de impedir a replicação do vírus no organismo humano.