'Declare Independência' discute matemática no Brasil
“Ensinar matemática não é uma atividade fácil, porque é preciso transmitir um tipo de conhecimento frequentemente abstrato. Sendo assim, o grande incentivo é como despertar o interesse da criança ou do jovem pelo assunto.” É o que acredita o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana. O pesquisador colaborou com seu depoimento para o livro “Declare Independência – Como a Matemática Muda Vidas no Brasil”, de Leão Serva, Tiago Piassum e Thales Nóbrega, que reúne reflexões de profissionais da área.
A obra faz parte de um projeto que defende a matemática como base da sociedade, presente em muitos processos do nosso cotidiano. O objetivo de “Declare Independência” é abordar a importância da área, que, no Brasil, ainda enfrenta desafios desde a educação básica e educação financeira ao mercado de trabalho. Além disso, os autores trazem dicas de especialistas para que os brasileiros usem melhor a matemática no cotidiano.
Em seu relato publicado no livro, Viana destaca que o maior desafio é relacionar o ensino da matemática com a vivência do aluno. “É a metade da pizza, é comparar, é contar o número de brinquedos etc. Meus filhos aprenderam um pouco de frações em casa em volta de uma pizza. Esse foi o meio pedagógico que empreguei”, explica.
Ele avaliou que, até hoje, a educação ainda é muito defasada, principalmente para os alunos de baixa renda. “Anos atrás, estava na fila para comprar um picolé para minha filha após o Brasil ganhar uma medalha de ouro nas Paralimpíadas, no Rio de Janeiro. O vendedor não sabia calcular o troco de uma nota de 100 reais – o sorvete custou 16 reais. Isso mostra a necessidade de saber o básico, mas o Brasil sempre fica devendo às pessoas de baixa renda, em termos de formação”, pontuou.
Além do relato de Viana, o livro destaca a relevância da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) para desenvolver o interesse pela disciplina desde o ensino básico. Apesar de 20 milhões de estudantes participarem das provas anualmente, número 4,7 vezes maior do que o de candidatos do ENEM, o país ainda forma poucos profissionais na área.
Entre os depoimentos, a deputada federal Tábata Amaral revela o quanto a OBMEP foi essencial para definir seu futuro acadêmico. O livro traz ainda o relato de Gabriella Morgado, medalhista da OBMEP e a brasileira que mais pontuou na Olimpíada Europeia Feminina de Matemática (EGMO, na sigla em inglês) no ano passado, e do professor professor Antônio Amaral, um dos responsáveis pelo sucesso da pequena Cocal dos Alves, cidade que acumula metade das medalhas conquistadas pelo Piauí nas edições da OBMEP.
A obra reúne, ao todo, 11 histórias de personalidades que tiveram a vida mudada pela matemática. A publicação já está disponível para vendas em livrarias. Uma versão digital reduzida pode ser baixada gratuitamente pelo site do projeto.