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28/10/2021

Matemática das escolas precisa englobar o digital, diz Imbuzeiro

Em um mundo hiperconectado, onde circula uma profusão de dados em novas tecnologias, “trazer a matemática do digital à sala de aula é fundamental”, afirmou o pesquisador do IMPA Roberto Imbuzeiro durante o 3º Seminário Mentalidades Matemáticas, nesta quarta-feira (27). Realizado em formato virtual pelo Instituto Sidarta em parceria com o Itaú Social e com apoio do IMPA, o evento reuniu palestrantes internacionais, pesquisadores brasileiros e nomes do mercado para dialogar sobre a importância da matemática no mundo pós-pandemia e pensar como gestores educacionais podem mobilizar as redes para aprimorar o ensino da disciplina. 

O painel “A matemática no mundo digital”, que Imbuzeiro integrou, também contou com a participação do doutorando do IMPA Hallison Paz; da professora de Educação Matemática da Universidade Stanford e criadora do programa Mentalidades Matemáticas, Jo Boaler; e da professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Coordenadora do Projeto Meninas na Ciência de Dados, Karla Oliveira Esquerre. Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta, moderou a conversa. 

Em uma breve participação por vídeo, Hallison Paz explicou como a matemática se insere no universo da tecnologia. “Na era digital o mundo se tornou mais complexo, porque o digital se tornou mais uma dimensão das nossas vidas. E a matemática é quem constrói essa dimensão. Tudo que nós conseguimos representar no computador são conceitos matemáticos, inclusive esse vídeo pelo qual estamos nos comunicando”, alertou Hallison. “Algoritmos matemáticos intermediam muitas das nossas interações com o mundo, e consequentemente tem impacto sobre as nossas decisões e sobre as vidas de muitas pessoas”, acrescentou.

Imbuzeiro contextualizou que, no mundo contemporâneo, temos que lidar com conceitos mais abstratos, como o da informação, que se relaciona com dois objetos: computação e dados. “Dados têm vindo em grande volume e grande complexidade de uma série de experimentos científicos, das agências públicas que querem monitorar o que está acontecendo na sociedade e das redes sociais. É importante a gente lidar com esses dados e extrair informações deles.” Neste ponto, a computação é uma forte aliada. “É tanto dado, tão variados e complexos, que não conseguimos simplesmente lidar com eles na mão. Precisamos da máquina para nos ajudar.”

Integrante do projeto “Data science for everyone”, que leva para sala de aula dos Estados Unidos conceitos de ciência de dados, modernizando o ensino da matemática, Jo Boaler reforçou a necessidade de alfabetizar os jovens e crianças na leitura de dados desde cedo. “Qualquer estudante que saia da escola com um senso de leitura e interpretação de dados vai ser beneficiado. Está em todos os trabalhos e em todas as partes da vida.” Além da vantagem profissional, é importante saber interpretar dados para não ser enganado, acrescentou. “Particularmente quando eles começam a interagir com as redes sociais e passam a receber dados e imagens que são incorretos, com a intenção de enganá-los. Nós queremos que eles desenvolvam esse letramento para que eles possam separar o certo do errado e fatos da ficção”, disse.

Trazer a ciência de dados e a estatística para dentro das salas de aula, conectando-a com o cotidiano dos alunos, é uma ótima forma de encantar os estudantes para a matemática assim como para outras disciplinas, como história, geografia e artes, pontuou Karla Oliveira Esquerre. Para abordar temas ligados à casualidade em seus projetos educacionais, por exemplo, a professora já chegou a ilustrar os conceitos com a capoeira. “Numa roda de capoeira tem cada integrante, o movimento de uma pessoa, a música… Tem toda uma estrutura para que aquilo aconteça. Como os fatores se relacionam? O que é uma relação de causa e feito ali? É um processo que atrai o estudante”, contou.

Imbuzeiro pontuou que a presença de computadores dentro das escolas, algo ainda distante considerando a realidade brasileira, é um primeiro passo para promover a educação digital, mas é preciso ir além. “Não é só aprender a usar um aplicativo, um computador. O aluno precisa brincar e testar conceitos matemáticos no computador, como entender a lógica de programação, para saber encarar o mundo de uma forma analítica. É preciso explorar o potencial intelectual da coisa. A gente precisa que o cidadão brasileiro do século XXI seja capaz de lidar com essa inundação de informação ao nosso redor de uma forma crítica.”

A terceira edição do Seminário Mentalidades Matemáticas terminou nesta quarta-feira (27) e reuniu representantes de secretarias de educação, gestores e professores em palestras, debates e oficinas.