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18/10/2021

História inspiradora: Lucas Xavier de Matos

Craque na Matemática, bimedalhista em Obmeps, Lucas Xavier de Matos surpreendeu os parentes e amigos ao anunciar, anos atrás, a carreira profissional que escolhera. Todos esperavam algo relacionado a números, equações, tecnologia, informática ou alguma profissão que mesclasse tudo isso. Mas Lucas optou pela Medicina.

Mas em que a Medicina e a Matemática se aproximam? É o próprio Lucas, que atualmente faz residência médica em oftalmologia em unidades da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), quem responde: “A oftalmologia tem muito de ótica e muita coisa a calcular. A Matemática ainda me ajuda muito”.

Mineiro de Juiz de Fora, Lucas, de 27 anos, observa que a Matemática o auxiliou a “entender o aparelho do olho bem mais do que quem está de fora pode imaginar”. “Todos os cálculos
do olho eu faço de cabeça, mais rapidamente do que os demais oftalmologistas. Isso me ajuda muito no dia a dia”, diz.

Um exemplo que Lucas cita da aplicação prática da Matemática na Medicina, especialmente na oftalmologia, é a cirurgia de catarata, doença que torna opaco o cristalino, considerado pelos médicos uma espécie de lente ocular natural. “Na cirurgia, retiramos o cristalino e colocamos no lugar uma lente artificial. Cada cristalino e cada lente têm características próprias, tamanho, dimensões. São necessários cálculos para fazer tudo de modo preciso. Saber matemática facilita muito quando precisamos calcular como serão as lentes”, conta ele.

Lucas sempre estudou em escolas públicas em Juiz de Fora. Na adolescência, passou dois anos no Colégio Naval, em Angra dos Reis, no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro. Pensava em ser ofi cial de Marinha. Foi no período do Colégio Naval que se envolveu mais a fundo com a Matemática, que já apreciava como aluno do Colégio Militar de Juiz de Fora.

Estimulado por professores e colegas de estudos no Colégio Naval, Lucas disputou as Obmeps de 2008 e 2009. Conquistou uma medalha de prata e uma de bronze. “No Colégio Militar, o professor Aristeu Tavares sempre instigava a estudar os alunos que gostavam mais de Matemática. No cursinho Apogeu, que fiz para entrar no Colégio Naval, também havia muito estímulo ao estudo matemático. O curso era forte em Exatas, puxava pelo estudante. Consegui um resultado muito bom na prova para o Colégio Naval: terceiro lugar no geral. Quinto em Matemática”, relembra.

Estudante inquieto, sempre de olho em oportunidades e desafios, Lucas relata ter, já no
segundo ano no Colégio Naval, começado a sentir uma atração pela Medicina ao mesmo tempo que se desinteressava pela carreira militar. “Passei a amadurecer a ideia de seguir carreira profissional na Medicina. Sai do Colégio Naval no terceiro ano. Voltei para Juiz de Fora para fazer um novo cursinho que me habilitasse a ter sucesso no vestibular para Medicina, o que consegui”, afirma.

O sucesso nas Obmeps estendeu-se à trajetória universitária de Lucas. Graças à condição de medalhista em duas edições das Olimpíadas, fez o Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC JR.) e o Picme em Matemática. “Isso engrossou e enriqueceu muito o meu currículo. O PIC JR. e o Picme deram-me pontos na prova de seleção da residência. E consegui desenvolver outros projetos acadêmicos na Faculdade de Medicina”, acrescenta.

Um dos projetos a que Lucas se referiu teve muito envolvimento da Matemática. “Em um projeto de formação profissional, tinha de desenvolver um game com ossos e músculos. Eu fazia o meio de campo entre o pessoal da Medicina e da computação. Era um projeto misto. Meu conhecimento matemático foi determinante nesse trabalho”, diz Lucas.

A origem do quase matemático, hoje médico, é uma típica família de classe média de uma
cidade desenvolvida da Zona da Mata de Minas Gerais. O pai, o comerciante João Xavier, morreu no ano passado. A mãe, a dona de casa Miramar Matos de Oliveira, é entusiasta da capacidade e do desempenho do filho único. “Lucas levava tudo muito a sério. Estudando
muito desde pequeno. Quando queria um negócio, levava aquilo a sério. Nunca precisei correr atrás dele para estudar. Às vezes até o chamava para dar uma parada no estudo e tomar um suco, um lanche”, conta ela.

Miramar afirma que ainda não entendeu direito por que Lucas resolveu trocar a Matemática pela Medicina. “Vou te contar: o menino devorou um bocado de livros. Ele gostava muito de Matemática. Não sei por que, depois, ele escolheu a Medicina. Não sei mesmo”, diz.

Professora da disciplina de Neuroanatomia da Faculdade de Medicina de Juiz de Fora, a clínica geral Alice Belleigoli Resende prevê uma carreira médica de sucesso para Lucas, que foi seu monitor durante todo o período de graduação. De acordo com a professora, Lucas demonstrou ser um “estudante diferenciado”, com “um grande potencial” para exercer a Medicina com excelência. Alice destaca a facilidade com que o ex-aluno lidava, também, com questões relacionadas à Matemática.

“Lucas foi um excelente aluno do projeto Jogos Interativos de Anatomia Humana. Ele adorava e tinha muita facilidade na área de computação, o que é raro entre os estudantes de Medicina”, rememora a professora.

Ainda solteiro, Lucas planeja, ao terminar a residência médica, abrir um consultório próprio em Juiz de Fora e, quem sabe mais adiante, em outras cidades da região.

*Texto retirado do livro de Histórias Inspiradoras da OBMEP.