Formação é calcanhar de Aquiles dos professores do Brasil
Acabo de receber material muito interessante do meu colega Humberto Bortolossi, da Universidade Federal Fluminense, intitulado “Formação de professores de matemática: O que é realmente necessário e prioritário?”, que recomendo vivamente aos leitores.
Humberto fez mestrado no Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada) e doutorado em matemática na PUC-Rio, com uma excelente tese sobre otimização de redes de produção e distribuição de energia.
Ele combina cultura acadêmica e tecnológica fora de série com uma diversidade de interesses de estudo igualmente invulgar: educação em matemática, popularização da ciência, formação de professores e muito mais. Humberto tem mais uma grande qualidade: ao contrário de tantos teóricos da educação que “pesquisam” o tema em seus gabinetes sem jamais chegarem perto da sala de aula, ele põe a mão na massa e submete suas ideias e experiências ao duro julgamento da realidade.
A formação de professores é o calcanhar de Aquiles da nossa educação básica. O professor é elemento crucial da cadeia educativa e, no entanto, a formação oferecida na maior parte das nossas licenciaturas em matemática é totalmente inadequada, além de obsoleta. No Brasil, a esmagadora maioria dos licenciados da área é egressa de faculdades particulares com controles de qualidade duvidosos. Muitas dessas instituições não têm jeito, precisam ser fechadas. Para outras, um efetivo controle por parte das autoridades poderia fazer uma grande diferença. Mas nossas melhores universidades públicas também não estão isentas de críticas.
Em artigo publicado em março de 2011 na revista “Notices”, da American Mathematical Society (Sociedade Americana de Matemática), o professor emérito Hung-Hsi Wu da Universidade da Califórnia, em Berkeley, pergunta: “Para formarmos bons professores de francês, deveríamos exigir que eles aprendam latim, no lugar de francês? Afinal, latim é a língua mãe do francês e, sendo um idioma mais complicado, aqueles que conseguirem aprendê-lo deverão estar bem habilitados para o francês.”
Claro que é uma ironia mas, segundo Wu, tem muito a ver com o que fazem as licenciaturas em matemática em seu país. No Brasil não é diferente.