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26/06/2024

Folha: 'Gödel e o nascimento das ditaduras'

 

Kurt Gödel – Reprodução

Reprodução da coluna de Marcelo Viana na Folha de S. Paulo

Ao final de 1939, os submarinos alemães faziam da travessia do Atlântico uma aventura perigosa. Escapando ao alistamento no Reich, Kurt Gödel (1906–1978) partiu de Viena para Princeton na direção oposta: na companhia de sua esposa, Adele, cruzou a Ásia, na ferrovia transiberiana, o Pacifico e, novamente em trem, a América do Norte.

No Instituto de Estudos Avançados de Princeton ele fez alguns de seus trabalhos mais importantes, incluindo a prova da consistência do Axioma da Escolha e da Hipótese do Contínuo, duas afirmações com papel crucial na lógica e na matemática do século 20.

Meia dúzia de anos depois, Gödel decidiu solicitar a cidadania norte-americana. Um dos primeiros passos foi indicar as suas testemunhas: os amigos Albert Einstein (1879–1955) e Oskar Morgenstern (1902–1977), economista e cofundador da teoria dos jogos, a mais importante área de aplicação da matemática às ciências sociais. Para nossa sorte, Morgenstern deixou relato escrito do processo.

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Meticuloso e obsessivo, Gödel se preparou para a audiência de naturalização estudando absolutamente tudo sobre a história e a cultura dos Estados Unidos, da povoação humana do continente até as divisas exatas dos bairros de Princeton. Não adiantava os amigos, que já tinham sido naturalizados, insistirem que o juiz não entraria em tais minúcias: ele continuava estudando mais e mais livros e artigos sobre qualquer tema próximo.