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01/09/2017

Documentos de Alan Turing são encontrados em depósito

Durante uma arrumação, cartas e rascunhos antigos podem, facilmente, virar lixo. Sorte que foi Jim Miles, professor da Escola de Ciência da Computação da Universidade de Manchester, no Reino Unido, quem se deparou com uma pasta vermelha, onde estava escrito o nome “Alan Turing”, ao esvaziar um antigo armário de arquivo em um depósito da instituição.

Miles achou que a pasta fora tão somente reutilizada por alguém da universidade, considerando que o matemático britânico morrera em 1954, aos 41 anos. Mas, ao abri-la, foi surpreendido com uma coleção de documentos de Turing, que desvendou o código usado pelos alemães para proteger as mensagens trocadas entre si, possibilitando sucessivas vitórias aos países Aliados e dando um fim à Segunda Guerra Mundial.

Professor da Escola de Ciência da Computação, Mile contou ter ficado impressionando diante do que viu: “Inicialmente, pensei: ‘Isso não pode ser o que eu acho que é’, mas uma rápida olhada mostrou que era um arquivo de cartas antigas e correspondências de Alan Turing”, disse em texto publicado no site da Universidade de Manchester, achando surpreendente o fato de o material ter ficado guardado por tanto tempo.

A pasta de Turing não via a luz do dia há, pelo menos, 30 anos, e continha 148 documentos de cunho pessoal, como convites para palestras nas mais renomadas instituições de ensino dos Estados Unidos e outros papéis relacionados ao trabalho de Turing na Universidade de Manchester, onde ingressou em 1948, atuando no Departamento de Matemática e, depois, como diretor do Laboratório de Computação.

Na pasta havia, por exemplo, um esboço de um programa de rádio da BBC, sobre inteligência artificial, intitulado “As máquinas podem pensar?”, de julho de 1951, um dos poucos escritos a mão. Considerado o pai da computação, o britânico desenvolveu pesquisas inovadoras nas áreas de inteligência artificial, computação e matemática.

De acordo com a Universidade de Manchester, onde os documentos estão arquivados e disponíveis on-line, trata-se de uma parte relevante da correspondência oficial de Turing durante o período, março de 1949 a junho de 1954, dias antes de sua morte.

O matemático tinha cianeto no organismo e, apesar de ter sido divulgado que ele teria cometido suicídio, há quem defenda a tese de que, na verdade, a substância fazia parte do processo de castração química que ele aceitou fazer para não ser preso. Homossexual assumido, considerado um crime à época, ele foi condenado por praticar “atos indecentes.”

Em 2013, 59 anos após sua morte, o matemático recebeu o perdão real, após um pedido do ministro da Justiça, Chris Grayling, que destacou como o trabalho de Turing salvou milhares de vida.

Vida foi contada em filme

Em 2014, a vida de Alan Turing foi contada em “O jogo da imitação”. A trama relata a história do homem que, com a ajuda de outros matemáticos, conseguiu decifrar o código do Enigma, máquina de criptografia usada pelas alemães para transmitir mensagens a seus homens no campo de batalha.

O matemático foi responsável por outras importantes descobertas, como a Máquina Universal Turing, considerada o fundamento da Ciência da Computação, e o teste para dimensionar a inteligência de uma máquina, introduzindo o conceito de inteligência artificial.