Cayo Dória defende tese e sonha viver da Matemática
Os exemplos da infância causam grande impacto na vida das pessoas, inclusive quando, já adultas, optam por um determinado caminho. Com Cayo Rodrigo Felizardo Dória não foi diferente. Natural de Aracaju (SE), ele mal se lembra de quando começou a gostar de Matemática. Acredita que o apreço pela matéria surgiu quando percebeu “o padrão óbvio na tabuada de 5, passando pelo prazer de resolver sistemas de equações lineares que modelavam problemas simples do dia a dia e o encanto ao conhecer o lado abstrato/puro da Matemática na graduação, em cursos básicos como álgebra linear e análise na reta”.
A inspiração para se tornar matemático veio de casa. O primo de sua mãe, chamado por ele de “tio Danilo”, fez carreira na área como pesquisador na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e na UFS (Universidade Federal de Sergipe). Nele, Dória se espelhou.
“Uni o gosto pela Matemática com o vislumbre de poder viver dela a partir desse exemplo”, diz.
Somam-se à influência familiar os ótimos professores que o estudante sergipano encontrou no Ensino Médio, quando estudou no CEFET-SE (atual IFS). De lá, seguiu para a graduação na UFS no mesmo período do início do Reuni, programa de expansão da rede federal das universidades.
“Vi a universidade basicamente dobrar nesse período e me empolguei com aquele ambiente de incentivo à ciência. Lembro que, quando fiz minha primeira iniciação científica com um ex-aluno do IMPA [Almir Santos], fui um dos poucos alunos de Matemática pura a ter esse privilégio na UFS. Antes os alunos só conseguiam raras bolsas com professores de física ou engenharia. Com o passar do tempo, o número de bolsas para Matemática foi crescendo. Isso certamente me motivou a continuar e fazer pós-graduação”, conta.
Incentivado pelo sucesso de bons alunos da UFS no IMPA, ele decidiu seus próximos passos. Primeiramente, participou do curso de verão no ultimo ano da graduação. Na sequência, foi aceito no mestrado.
“Estou no IMPA desde 2012. Aqui obtive a maior parte do meu conhecimento matemático”, revela Dória.
Quase realidade…
O próximo desafio do sergipano que sonha em viver de Matemática é a defesa de tese, às 11h de 18 de julho. Orientando de Mikhail Belolipetskiy, seu trabalho é da área de Geometria. Para ser mais específico, podemos dizer que trata de “Geometria e Topologia em dimensão baixa”. Não muito afeito a essas nomenclaturas e divisões, Dória diz apenas que “faz Matemática” e ponto!
A tese trabalha uma questão bastante teórica sobre um espaço formado por superfícies de Riemann, também conhecido como espaço moduli.
“Dentro dele tenho um subconjunto muito especial conhecido como subespaço das superfícies de Riemann aritméticas. Existem algumas peculiaridades deste subespaço que faz surgir uma pergunta matematicamente muito natural e interessante, que é saber como eles estão distribuídos dentro do espaço maior. Minha tese visa tentar obter algumas respostas para o questionamento. Podemos dizer, a partir da minha tese, que o subespaço não está bem uniformemente espaçado nem está concentrado numa parte pequena. Ainda é um mistério muito interessante saber sobre esses objetos especiais. Até porque as superfícies de Riemann aritméticas têm certa relevância em computação e em teoria dos números”, explica.
A questão que fica: isso tudo tem aplicação prática? O doutorando diz que, embora o tópico estudado tenha relações com aplicações práticas, esse não foi seu direcionamento.
“Na verdade, o que mais gosto em meu trabalho é a aplicação da Matemática na Matemática. Para estudar um problema geométrico, apliquei ideias e resultados de combinatória, análise complexa, teoria de grupos e teoria dos números para citar exemplos. Acho que a maior contribuição para a academia é mais uma demonstração da integração entre os mais diversos ramos.”
A escolha de Belolipetskiy como orientador tem relação direta com a opinião de Dória de que a Matemática não deveria ter divisões. Assim, quando teve de escolher uma direção para o doutorado, optou pelo pesquisador. “Nos trabalhos dele havia tópicos da Matemática em que sempre tive interesse.”
Do aceite à orientação, ambos construíram uma ótima relação, especialmente porque Belolipetskiy incentivou o aluno a estudar coisas bastante diversificadas.
“Também foi um privilégio fazer parte da linhagem da Matemática russa, uma das escolas que mais admiro na história moderna da Matemática. Do ponto de vista pessoal, Mikhail sempre foi um apoiador incondicional. Por causa de sua experiência sempre foi confortante acatar as sugestões dele.”
Para Dória, o ambiente do IMPA é muito estimulante e oferece chances de os alunos conhecerem “pessoas matematicamente brilhantes”, além do intercâmbio com centros internacionais.
Depois de defender a tese no IMPA, ele já tem garantida uma vaga para fazer pós-doc na USP (Universidade de São Paulo). Depois, é fazer as malas e viver… o sonho da Matemática.
SERVIÇO:
Defesa de tese de Cayo Rodrigo Felizardo Dória
“Como as sístoles crescem”
Data: 18 de julho | Horário: 11h | Local: sala 236