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29/07/2018

Artur Avila troca França por Suíça, mas continua no IMPA

Reportagem deste sábado da Folha de S.Paulo revela que o pesquisador extraordinário do IMPA e vencedor da medalha Fields, Artur Avila, vai trocar a França pela Suíça, a partir deste mês. Artur continua vinculado ao IMPA, sem nenhuma alteração. Continuar vinculado ao IMPA e ao Brasil foi uma exigência para ir para a Universidade de Zurique.  “O Impa é a principal instituição de matemática do país.” Artur também fala sobre o seu papel e sua função simbólica para o desenvolvimento da matemática no Brasil.

Leia a reportagem abaixo, de autoria de Sabine Righetti, na Folha de S.Paulo.

‘Nobel’ da matemática muda da França para Suíça – e segue com pé no Brasil 

O único ganhador brasileiro da medalha Fields — prêmio que é considerado o Nobel da matemática — está de malas prontas. O matemático Artur Avila (39) acabou de ser contratado pela Universidade de Zurique, na Suíça, onde começa a trabalhar em agosto. Ele deixa o CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica, órgão do governo francês), onde era diretor de pesquisa, mas segue colaborando com o Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada) — condição, diz, para que aceitasse a proposta suíça.

“Não queria interromper essa situação”, disse o matemático ao Abecedário.  “O Impa é a principal instituição de matemática do país.”

Avila chegou ao instituto aos 17 anos: fez mestrado e doutorado no Impa simultaneamente à graduação em matemática na UFRJ. Aos 21 anos, já estava no pós-doutorado na França — o que lhe dá um caráter de gênio na área mundialmente.

A condição de continuar com a colaboração em pesquisa com o Impa tem também um tom de nacionalismo. “Existem funções que posso exercer no Brasil para além da pesquisa em matemática”, diz. A principal delas é atrair estudantes brasileiros para a matemática — área em que o país ainda patina internacionalmente. Para se ter uma ideia, o Brasil está em 65° lugar na avaliação de matemática do PISA, da OCDE, dentre 70 países. É o pior desempenho do país no exame (as outras áreas avaliadas são ciências e linguagens).

Nessa missão, Avila quer inspirar a garotada. Dá palestras, circula em escolas, conversa com estudantes, tira selfies e, vira e mexe, entrega medalha na OBMEP (Olimpíadas Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), organizada pelo próprio Impa. Para ele,  a OBMEP é um caso de sucesso na educação do país. “Ganhar uma medalha dá um ânimo. Funciona realmente.”

O matemático brasileiro tem recebido convites de instituições renomadas de ensino e pesquisa mesmo antes da medalha Fields, prêmio que recebeu em 2014. “As pessoas não ganham um Fields do nada, então os bons nomes estão circulando e acabam recebendo convites”, diz. Somente neste ano, no entanto, decidiu analisar propostas.

Escolheu Zurique porque é um lugar bastante desenvolvido matematicamente. E tem dinheiro: “terei recursos para convidar pessoas do Brasil.” Na Suíça, além de pesquisa, que será sua principal atividade (ele trabalha com matemática pura), Avila vai ministrar um curso ligado à sua atividades de estudos.

A mudança dele para a Suíça não se trata, enfatiza, de uma fuga de cérebros — fenômeno em que pessoas altamente qualificadas deixam o país em busca de oportunidades fora. “Estou fugindo da França para Suíça!” (risos)

A Universidade de Zurique está entre as 100 melhores do mundo no ranking universitário THE e em 58° lugar no ranking de Shangai. Esse último considera a quantidade de prêmio Nobel e medalhas Fields no total docente como critério de qualidade da instituição.