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28/04/2019

Aos 98 anos, morre Maurício Peixoto, fundador do IMPA

O matemático Maurício Matos Peixoto, um dos fundadores e pesquisador emérito do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), morreu neste domingo (28), aos 98 anos, no Rio de Janeiro. Pesquisador de renome internacional, Maurício Peixoto foi presidente do CNPq, da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM).

Com mais de 40 trabalhos publicados, seu talento foi reconhecido ao longo da vida. Em 1969, recebeu o Prêmio Moinho Santista, então considerado um dos mais tradicionais estímulos à produção intelectual brasileira. Em 1987, ganhou o Prêmio de Matemática da Academia Mundial de Ciências (TWAS). Recebeu ainda a Grã-Cruz e a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, entre outras homenagens.

“A vida e trajetória de Maurício se confundem com a história da matemática brasileira, que ele ajudou a criar e inspirou muito. Fico feliz que ele tenha podido testemunhar a promoção do Brasil ao grupo de elite da matemática mundial e o Congresso Internacional de Matemáticos no Brasil”, afirmou Marcelo Viana, diretor-geral do IMPA.

Filho do governador do Ceará José Carlos de Matos Peixoto, deposto pela Revolução de 1930, foi forçado com a família a se mudar para o Rio de Janeiro. Nascido em 15 de abril de 1921, seu interesse por Matemática surgiu na infância, aos 11 anos, curiosamente após ser reprovado na disciplina no Colégio Pedro II, no Rio. Recebeu aulas particulares do também cearense Nelson Chaves, amigo da família e aluno da Escola de Engenharia, que o ajudou a passar no exame de segunda época. “Começamos da estaca zero e fiquei deslumbrado com suas aulas. Já nessa época, decidi que iria estudar alguma coisa que envolvesse matemática”, contou, em entrevista ao livro IMPA 50 Anos.

Como a carreira de matemático não existia, foi para a Escola de Engenharia da Universidade do Brasil. Lá, fez amizade com os colegas de turma Leopoldo Nachbin, “companheiro inseparável” e também fundador do IMPA, e Marília de Magalhães Chaves, com quem se casaria em 1946. Os dois foram influências importantes para que Maurício se tornasse matemático.

Em 1943, recebeu o diploma de engenheiro civil, profissão que nunca chegou a exercer: gostava mesmo era de estudar e ensinar Matemática. Na mesma Escola, foi aprovado no concurso de Livre-Docência de Mecânica Racional, em 1947, e no da Cátedra da mesma disciplina, em 1952.

Fundador do IMPA

Foi também em 1952 que, ao lado de Lélio Gama e de Leopoldo Nachbin, Maurício fundou o IMPA. De início, o instituto não dispunha de sede própria: foi alojado temporariamente numa sala da sede do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (criado três anos antes), na Praia Vermelha, zona sul do Rio de Janeiro. Primeira unidade científica do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), o IMPA nasceu com o objetivo de estimular a pesquisa científica em Matemática, formar pesquisadores, difundir e aprimorar a cultura matemática no Brasil.

Em 1964, Maurício embarcou rumo aos Estados Unidos para integrar o corpo docente da Brown University, onde ficaria até 1970. O convite veio de Solomon Lefschetz, matemático que conhecera em 1957, quando passara um ano na Universidade Princeton, trabalhando em Estabilidade Estrutural de Equações Diferenciais. De volta ao Brasil, deu aulas no Instituto de Matemática e Estatística (IME) da Universidade de São Paulo, de 1973 a 1978.

No IMPA, desenvolveu estudos importantes. O Teorema de Peixoto, que caracteriza os campos de vetores estruturalmente estáveis em variedades compactas de dimensão 2, foi um marco matemático no Brasil e no mundo, relacionado a Sistemas Dinâmicos.

Seu talento como professor se refletiu no desempenho dos alunos. Em 1962, orientou os estudantes estrangeiros Ivan Kupka e Jorge Sotomayor, que fizeram destacados trabalhos de Sistemas Dinâmicos, com repercussão internacional imediata. As duas teses foram passos iniciais no estabelecimento do IMPA como uma instituição de pesquisa de nível internacional. Maurício trabalhou ainda com o matemático norte-americano Stephen Smale, ganhador da Medalha Fields em 1966, que visitou o IMPA em diversas ocasiões.

Em 1974, foi o segundo brasileiro a falar como palestrante convidado no Congresso Internacional de Matemáticos (ICM), em Vancouver (Canadá) – o primeiro havia sido o amigo Leopoldo Nachbin, em Estocolmo (Suécia), em 1962.

Maurício Peixoto presidiu o CNPq em 1979 e 1980. No ano seguinte, assumiu a presidência da Academia Brasileira de Ciências, onde entrara como membro em 1949. Exerceu o cargo por dez anos, até 1991, quando se tornou pesquisador emérito do IMPA. Cinco anos depois, foi nomeado membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.

Maurício casou-se três vezes (com Marília, Maria Lucia Alvarenga Peixoto e Alciléa Augusto) e teve quatro filhos: Martha, Ricardo, Marcos e  Elisa. O velório será no Memorial do Carmo, nesta segunda-feira (29), de 14h às 18h.