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21/05/2018

Tese analisa problemas de probabilidade discreta

Quando estiver diante da banca examinadora nesta terça-feira, 22, o alagoano Alan Anderson da Silva Pereira, 25, abordará problemas relacionados a estruturas discretas que mudam com o tempo.

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Diante da recorrente pergunta sobre a aplicabilidade da pesquisa, ele dá explicações, mas só após discorrer sobre uma analogia que teria sido feita pelo cientista britânico Michael Faraday (1791-1867). Conta-se que a Rainha Vitória, em visita ao laboratório de físico, teria perguntado: “Mas para que servem todas essas coisas?”. Como resposta, ouviu: “E para que serve um bebê?”

 “A Matemática é, para o pesquisador, o que um bebê é para a mãe. O matemático sabe que ela deve crescer e cumprir seu papel social de melhorar a sociedade, mas ele não a cria pela utilidade que um dia sua criação terá. Ele a cria e a alimenta porque  gosta, porque é uma parte dele. Pesquisa de base é um trabalho necessário, difícil, e cujas recompensas, tanto para o pesquisador quanto para sociedade, são de longo prazo. É necessário que exista gente que faz ‘só’ por gostar para que isso se sustente”, observa o alagoano.

Pereira gosta. E não é de hoje. Nascido em União dos Palmares, conhecida como a Terra da Liberdade, onde viveu Zumbi, o filho único de Socorro, vendedora que chegou ao Ensino Médio, e de Francisco, motorista que parou antes, no Ensino Fundamental, ele diz gostar de jogos de lógica e de Matemática desde sempre. Crê que o interesse pelo assunto foi potencializado pelo professor Elivaldo Bezerra, no 5º ano.

“Foi ele quem me apresentou as Olimpíadas de Matemática (OBMEP e OBM) e me incentivou muito”, destaca, contando que no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), onde fez o Ensino Médio, foi muito incentivado por mentores como Carlos Argolo e Davi Lima, doutor pelo IMPA.

Medalhista da OBMEP e da OBM, Pereira participou do Programa de Iniciação Científica da olimpíada das escolas públicas, durante o período escolar e na graduação em Matemática na Universidade Federal de Alagoas (UFAL). O primeiro trabalho de iniciação científica foi em Probabilidade, área que escolheu para o doutorado. Nesta época, descobriu o IMPA.

 “Diversos matemáticos influentes passaram ou mesmo ‘surgiram’ por aqui. Desde o Ensino Médio, imaginava que seria muito legal se formar pelo instituto mais influente em Matemática. A oportunidade surgiu graças aos professores Krerley Oliveira e André Contiero, doutores pelo IMPA. Aí eu vim para cá”, relata.

Em 2012, ele deixou a terra natal para fazer mestrado no IMPA. Depois, ingressou no doutorado. O incentivo que encontrou na escola veio junto com Pereira. No IMPA, também encontrou terreno fértil para os estudos e os contatos memoráveis. É orientando de Roberto Imbuzeiro e, durante um doutorado sanduíche, por Gábor Lugosi, pesquisador da Universitat Pompeu Fabra, em Barcelona.

“Sou muito grato a ambos pela boa vontade e pela inspiração em cada reunião. Muitas vezes, chegava às salas deles convicto de que a pesquisa não era para mim, que eu devia fazer outra coisa mais simples, e saía de lá pensando que não fazia sentido fazer outra coisa na vida que não seja pesquisa. O doutorado foi difícil. Ter um orientador que o apoie não só com a Matemática em si, mas que te dê um suporte quando sua relação ‘pessoal’ com a Matemática está saindo dos trilhos, é muito importante. Tive a sorte de ter dois orientadores com essa característica”, diz.

Na tese “Tópicos em probabilidade discreta: análise do passado e do futuro” (“Topics in discrete probability: analysis of the past and of  the future”), Pereira estudou dois problemas em modelos discretos: árvores aleatórias no modelo de anexação uniforme e concentração de partições aleatórias.

Ele explica as ideias intuitivas dos dois problemas estudados:

“No primeiro caso, suponha que alguém lança uma informação que se espalha na internet, por exemplo, uma coisa boa como uma nova descoberta científica, ou algo ruim como uma fake news. Como podemos descobrir de onde essa informação surgiu? No segundo caso, suponha que cada dia que passa uma nova pessoa vem na rede e ou lança alguma informação nova, ou divulga alguma informação preexistente (com a chance de divulgar sendo maior para ideias já bem difundidas). Como podemos prever a quantidade de informação que teremos no futuro e a quantidade de adeptos/divulgadores de cada informação?”, detalha.

Para a banca examinadora, além de Imbuzeiro e Lugosi, Pereira convidou Milton Jara e Rodrigo Ribeiro, do IMPA, e Rémy Sanchis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O foco é a defesa de amanhã, às 13h30, na sala 224, mas ele já planeja os próximos passos acadêmicos. Como aluno do IMPA, avalia que está no caminho certo.

“O diferencial de ser aluno do IMPA é o grande contato da instituição com a comunidade internacional. É no IMPA que as coisas acontecem. Além disso, a instituição formou grande parte dos maiores dos matemáticos brasileiros”, avalia ele, que já mira um pós-doutorado.

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